Considerado por muitos o lagarto mais bonito do país, o lagarto-de-água é uma espécie endémica da Península Ibérica e emblemática da nossa fauna. Na época de reprodução, os machos adquirem uma coloração azul por toda a cabeça, não deixando ninguém indiferente à sua observação.
Taxonomia
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Família: Lacertidae
Género: Lacerta
Espécie: Lacerta schreiberi
O lagarto-de-água é uma espécie monotípica, o que significa que não inclui subespécies, mas é composta por duas unidades evolutivas (A e B) muito divergentes, cuja separação terá ocorrido há cerca de 2,75 milhões de anos. O grupo A compreende toda a população portuguesa e do Norte de Espanha, enquanto que o grupo B distribui-se pelo Sistema Central Espanhol e pelos isolados populacionais do Sul de Espanha.
Estatuto de Conservação e Abundância
Apesar de uma forma geral existir um elevado grau de fragmentação na sua distribuição, especialmente a sul, o lagarto-de-água está classificado com o estatuto “Pouco Preocupante” em Portugal. Por outro lado, está classificado como “Quase Ameaçado” a nível mundial pelo IUCN, uma vez que as populações parecem estar em declínio significativo. As principais causas para este declínio estão especialmente relacionadas com a perda e alteração do habitat, destacando-se as obras de regularização das margens das linhas de água, a construção de barragens, o despejo de lixos e entulhos, a extração de inertes, a construção de estradas e a alteração da vegetação nas margens das linhas de água.
Portugal
Mundial
Distribuição
O lagarto-de-água é uma espécie endémica da Península Ibérica, encontrando-se circunscrita à parte Noroeste e ao sistema central e a algumas populações isoladas no Sudoeste Espanhol. Em Portugal, ocorre de uma forma contínua desde o Minho até à região de Leiria/Abrantes, mas a partir deste local até à Serra de Sintra existe um elevado grau de fragmentação das populações. A sul do rio tejo encontra-se apenas em isolados populacionais muito dispersos e restritos a zonas montanhosas, nomeadamente, nas Serras de Cercal, de S. Mamede e de Monchique. Portugal compreende uma grande parte da população mundial do lagarto-de-água, totalizando cerca de 45%.
Ecologia e Comportamento
Habitat: Habita zonas relativamente húmidas, encontrando-se frequentemente associado a cursos de água com coberto vegetal denso. Aparece preferencialmente nas margens de linhas de água em que a vegetação ripícola possui características marcadamente atlânticas, ocorrendo com frequência em vales agrícolas, típicos das áreas montanhosas do norte do país. No entanto, também aparece junto ao litoral. As populações de grande altitude geralmente ocupam encostas rochosas perto de riachos e em Portugal, o lagarto-de-água ocorre até aos 1900m de altitude na Serra da Estrela.
Comportamento: O lagarto-de-água é uma espécie diurna, mas nos meses mais quentes pode também ser observado durante o crepúsculo. Está ativo desde fevereiro/março até novembro, altura em que começam a Invernar, no entanto, este período de hibernação pode ser consideravelmente mais longo dependendo da altitude. Os machos iniciam a sua atividade mais cedo do que as fêmeas, havendo por vezes diferenças de até um mês. Pode ser visto ao sol, em troncos ou rochas, perto da água, para a qual pode mergulhar se ameaçado. O lagarto-de-água é menos tímido do que a maioria das outras espécies de lagartos, aproximando-se do ser humano com alguma facilidade.
Predadores e Estratégias de Defesa: O lagarto-de-água é predado por várias espécies de animais, entre as quais se destacam as aves de rapina e a cegonha-branca (Ciconia ciconia) e, mais esporadicamente por alguns mamíferos, como a gineta (Genetta genetta) e a lontra (Lutra lutra). A fuga, a camuflagem e a capacidade de libertar a cauda voluntariamente constituem os seus principais mecanismos de defesa contra predadores, mas pode recuar lentamente e silenciosamente quando perturbado, permanecendo despercebido enquanto o faz. A longevidade máxima registada para esta espécie é de 8 anos.
Dieta: Baseia-se em pequenos invertebrados, alimentando-se preferencialmente de moscas, mosquitos, gafanhotos, lagartas e escaravelhos. Por vezes, também inclui na sua dieta frutos silvestres e outros pequenos lagartos.
Morfologia Externa e Identificação
Biometrias: É um lagarto de tamanho médio, que pode chegar aos 40 cm de comprimento total. Da ponta do focinho até à cloaca geralmente não ultrapassa os 13 cm, mas a cauda é bastante comprida e pode ter até duas vezes o tamanho do corpo.
Adulto: Esta é uma espécie emblemática da fauna portuguesa, conhecida pelo azul intenso que os machos adquirirem durante a época de reprodução na garganta em toda a cabeça. Esta característica é menos evidente durante o Inverno, pois o azul perde intensidade e a garganta fica esbranquiçada. O padrão de coloração dorsal nos machos é composto por tons esverdeados e amarelados, com um ponteado negro relativamente denso e uniforme e o ventre é amarelado com pequenas manchas negras.
No dorso das fêmeas notam-se grandes manchas negras, dispostas irregularmente ou formando bandas dorsolaterais, que contrastam com um fundo de tonalidade esverdeada ou acastanhada. O ventre é amarelado e normalmente não apresenta manchas escuras. As fêmeas também podem apresentar a garganta e cabeça azulada, mas normalmente a cor não é tão intensa e vibrante como nos machos.
Para além das diferenças na cor, existe também um dimorfismo sexual acentuado nas dimensões corporais. As fêmeas atingem tamanhos superiores aos dos machos e apresentam uma cauda de maiores dimensões. Por outro lado, os machos, apesar de mais pequenos, têm a cabeça e corpo com um aspeto mais robusto.
Juvenil: Após a eclosão, os pequenos lagartos-de-água medem entre 54 e 61 mm de comprimento total. Os juvenis têm nos flancos manchas amareladas ou esbranquiçadas, rodeadas de negro sobre um fundo acastanhado que se estende por todo o dorso e a cauda é amarelada ou alaranjada.
Espécies similares: O lagarto-de-água é uma espécie inconfundível da fauna portuguesa. A espécie mais próxima morfologicamente será o sardão (Timon lepidus), mas este distingue-se sobretudo pelas maiores dimensões, pelos ocelos azuis e pela coloração geral do corpo.
Lagarto-de-água adulto fêmea durante a época de reprodução.
© Daniel SantosSardão adulto.
© Armando Caldas
Reprodução
A época de reprodução decorre durante a primavera e o verão, mas os acasalamentos ocorrem entre abril e junho. O lagarto-de-água é uma espécie ovípara e as fêmeas põem entre 11 e 21 ovos (dependendo do seu tamanho corporal), normalmente entre maio e julho, em locais expostos e sem vegetação, que eclodem ao fim de 2 ou 3 meses de incubação, o que geralmente acontece durante agosto e setembro. As fêmeas podem ficar perto dos seus ovos até durante uma semana.
A maturidade sexual é atingida por volta dos 3/4 anos de idade e os machos e as fêmeas formam laços fortes, de forma a que estes protegem as suas parceiras por longos períodos.
Bibliografia
› Almeida., N.F., Almeida, P.F., Gonçalves, H., Sequeira, F., and Almeida, J.T.F.F. (2001). Guia FAPAS Anfíbios e Répteis de Portugal. (FAPAS, Porto)
› Cabral, M.J., Almeida, J., Almeida, P.R., Dellinger, T., Ferrand de Almeida, N., Oliveira, M.E., Palmeirim, J.M., Queirós, A.I., Rogado, L., and Santos-Reis, M. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. 659.
› Loureiro, A., Paulo, O.S., Ferramd de Almeida, N., Carretero, M.A., and Paulo, O.S. (2008). Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal (Lisboa).
› Speybroeck, J., Beukema, W., Bok, B., and Van Der Voort, J. (2016). Field guide to the Amphibians and Reptiles of Britain and Europe (London: Bloomsbury Publishing Plc).
› http://www.iucn.org/