Cegonha-branca (Ciconia ciconia)

A cegonha-branca (Ciconia ciconia) é uma das aves mais conhecidas e emblemáticas da avifauna portuguesa. Outrora foi considerada uma espécie ameaçada, mas hoje é muito comum no nosso país. As suas características únicas, torna a sua identificação muito fácil, mesmo quando está em voo.

© Armando Caldas
Cegonha-branca adulta

Taxonomia
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Ciconiiformes
Família: Ciconiidae
Género: Ciconia
Espécie: Ciconia ciconia

Em Portugal ocorre a subespécie C.c.ciconia.

Estatuto de Conservação e Abundância
Em Portugal está classificada como “Pouco Preocupante”, embora no passado estivesse classificada como “Vulnerável” devido aos números reduzidos de indivíduos que existiam no país e no resto do mundo em geral. Este declínio populacional, durante o século XX, foi resultado de uma longa seca em África, onde a espécie inverna. Mundialmente está também classificada como “Pouco preocupante”, pois esta espécie tem uma distribuição extremamente ampla e o tamanho da sua população mundial não se aproxima dos limiares de vulnerabilidade.

Portugal

Mundial

Distribuição
A cegonha-branca está presente por quase toda a Europa, com exceção de algumas áreas da Europa Central. Na Ásia ocorre de forma descontínua, mas forma populações extensas em área e em África distribui-se de forma alargada e contínua. Em Portugal, nidifica de norte a sul, mas é escassa no Noroeste do país, sendo notoriamente mais comum a sul do rio Tejo, concentrando-se sobretudo no Alentejo. Apesar disso, o número de ninhos na metade norte do país tem vindo a aumentar ao longo dos anos. É importante reter que a distribuição da cegonha depende da altura do ano, uma vez que é uma espécie migradora. Para além da população nidificante, há também uma população invernante, que tem vindo a aumentar ao longo das últimas décadas.

Ecologia e Comportamento
Habitat: Habita preferencialmente as proximidades de zonas húmidas, mas ocorre também em terrenos secos. Frequenta, por isso, um vasto leque de habitats, desde terrenos abertos com pastagens ou pousios e montados abertos, a habitats mais húmidos como, charcas, açudes, pauis, rios, ribeiras, lameiros, lagoas costeiras, estuários e arrozais. Aceita com facilidade a presença humana, construindo os seus ninhos frequentemente em estruturas não naturais. As lixeiras, em algumas zonas, são também exploradas pela espécie.  
Comportamento: As populações de cegonha-branca, em Portugal, são constituídas no inverno por indivíduos invernantes ou até mesmo residentes, e durante a época de reprodução há um elevado reforço de indivíduos migradores. É uma migradora excecionalmente precoce, uma vez que as zonas de criação do Alto Alentejo começam a ser ocupadas a partir de meados de novembro. No entanto, a maior parte das aves chegam em janeiro e fevereiro e regressam aos seus locais de invernada a partir da primeira quinzena de julho.
Predadores e Estratégias de Defesa: é uma ave de grandes dimensões e, por isso, os adultos raramente são predados por outros animais. No entanto, os ovos e as crias, podem ser predadas por algumas aves de rapina e alguns mamíferos.
Dieta: espécie generalista, mas os invertebrados parecem ser o alimento mais consumido em muitas regiões. Também se alimenta de pequenos mamíferos, répteis, anfíbios e aves. A expansão do lagostim-vermelho (Procambarus clarkii) deverá ter resultado numa alteração significativa do regime alimentar em muitas áreas, já que é uma espécie bastante consumida pela cegonha.

Morfologia Externa e Identificação
Biometrias: normalmente mede entre 95 e 110 cm de comprimento e entre 180 e 218 cm de envergadura.
Adulto: A cegonha-branca é uma ave de dimensão muito grande, com o pescoço e patas compridas. Apresenta uma plumagem branca que contrasta com as penas de voo (primárias, secundárias e terciárias), grandes coberturas, coberturas primárias, alula e escapulares, que são pretas. O bico é bastante comprido e forte, de cor avermelhada, tal como as patas. O dimorfismo sexual é pouco evidente e de difícil perceção no campo, sendo o macho ligeiramente maior do que a fêmea.
Ao voar mantém o pescoço esticado e projeta as patas para trás, tornando a sua silhueta bem distinta da maior parte das restantes aves.

© Armando Caldas
Cegonha-branca adulta

Juvenil: Os juvenis distinguem-se dos adultos através da coloração do bico e das patas. O bico, nas primeiras fases da vida, é mais curto e escuro, passando progressivamente a uma coloração mais avermelhada com a ponta escura. As patas são mais pálidas nos juvenis. 
Espécies similares: É uma espécie inconfundível, sendo facilmente identificada quer em voo ou parada em terra.

© Armando Caldas
Cegonha-branca juvenil

Vocalizações: Esta espécie não vocaliza, mas produz um ruído alto com o abrir e fechar do bico, ouvido sobretudo quando os casais se reúnem no ninho.

Reprodução
A cegonha-branca é uma espécie monogâmica, que pode nidificar isoladamente ou em pequenas colónias, quer monoespecíficas, quer partilhadas com garças e colhereiros. Os ninhos podem ser usados durante anos sucessivos, tornando-se muito volumosos ao longo do tempo, e são normalmente construídos em locais altos, como chaminés, edifícios, árvores, postes de eletricidade de alta tensão, etc. Na costa Vicentina as cegonhas nidificam em falésias junto ao mar, comportamento único no mundo e que provavelmente é explicado pela escassez, até algumas décadas atrás, das estruturas mais convencionais para a construção dos ninhos. A ocupação dos primeiros ninhos acontece em janeiro, acentuando-se este fenómeno durante os primeiros dias de fevereiro. As posturas são efetuadas durante o mês de março e são constituídas por 2 a 5 ovos. Os juvenis começam a voar por volta dos 60 – 70 dias de idade e cerca de um mês após o primeiro voo, a maioria torna-se independente e deixa o ninho, juntando-se em bandos que pernoitam em árvores ou em tanques de salinas.

© Daniel Santos
Ninho de cegonha-branca construído numa falésia
© Armando Caldas
Pequena colónia de cegonha-branca em árvores

Referências
› Cabral, M.J., Almeida, J., Almeida, P.R., Dellinger, T., Ferrand, A.N., Oliveira, M.E., Palmeirim, J.M., Queirós, A.I., Rogado, L., and Santos-Reis, M. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. (Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa).
› Catry, P., Costa, H., Elias, G., and Matias, R. (2010). Aves de Portugal: Ornitologia do Território Continental. (Lisboa: Assírio & Alvim).
Svensson, L. (2012). Guia de Aves (2º edição). Assírio & Alvim, Porto.
› http://www.avesdeportugal.info/
› http://www.iucnredlist.org


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