Víbora-cornuda (Vipera latastei)

A víbora-cornuda é uma das duas espécies de víboras que existem em Portugal. É venenosa, mas só ataca quando se sente encurralada. Tem um papel muito importante no controlo de pragas e, por isso, merece a nossa proteção e admiração.

© Armado Caldas
Víbora-cornuda

Taxonomia
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Família: Viperidae
Género: Vipera
Espécie: Vipera latastei

Estatuto de Conservação e Abundância
Em Portugal a víbora-cornuda apresenta uma fragmentação elevada e um declínio da sua extensão de ocorrência. Ao nível da sua distribuição mundial, encontra-se também fragmentada e em contínuo declínio. A perda e a degradação dos seus habitats por ação do Homem, estão entre os principais fatores de ameaça, no entanto, a captura ilegal de indivíduos selvagens, o atropelamento nas estradas, assim como, características da biologia reprodutora desta espécie são outros fatores importantes que contribuem para este declínio.

Portugal


Mundial

Distribuição
Ocorre em quase toda a Península Ibérica (exceto no extremo Noroeste) e também no Norte de África. Em Portugal distribui-se amplamente por todo o território, mas a sua distribuição é bastante fragmentada. De uma forma geral estão restritas às zonas montanhosas. É relativamente rara na metade Sul do país. Alguns exemplos das regiões onde a víbora cornuda pode ser encontrada são: Serras da Peneda, Gerês, Alvão e Montesinho, Caramulo, Buçaco, Montemuro, Estrela, Malcata e S. Mamede, no Douro Internacional e em populações litorais isoladas como, por exemplo, em Vila do Conde.

© Portugal Selvagem
Mapa de distribuição da víbora-cornuda

Ecologia e Comportamento
Habitat: É uma espécie típica de clima mediterrânico, de feição húmida, sub-húmida ou semiárida. Necessita de locais com boa insolação, preferindo zonas rochosas de montanha com vegetação (matagais e/ou bosques), mas também pode aparecer em altitudes mais baixas, desde matagais, campos agrícolas e pinhais do litoral. Em Portugal ocorre desde o nível do mar até aos 1500 metros, na Serra da Estrela.
Comportamento: No Inverno, vários indivíduos de víbora-cornuda agrupam-se em tocas ou sob pedras. Nestes locais entram em período de hibernação, com duração muito variável que está dependente da altitude e latitude.
Tal como a maioria dos répteis, é uma espécie essencialmente diurna, embora nos meses mais quentes possa ter uma atividade crepuscular ou noturna.
Predadores e Estratégias de Defesa: Tem como inimigos naturais outras cobras (ex. cobra-rateira), aves de rapina e mamíferos (javali, saca-rabos, gineta, e ouriço-cacheiro). Na presença destes opta, geralmente, por fugir, embora quando encurralada pode soprar e tentar morder. O mesmo acontece na presença do ser humano, logo o animal não deve ser incomodado e agindo desta forma, não representará qualquer perigo. Produz um veneno proteolítico, podendo ser potencialmente perigoso para o Homem (principalmente para crianças, idosos ou pessoas doentes), visto que é uma cobra solenoglifa (com dentes inoculadores muito especializados, situados na região anterior dos maxilares superiores). A longevidade desta espécie pode chegar até aos nove anos de idade.
Dieta: Consiste principalmente em micro-mamíferos, podendo ainda capturar lagartixas, juvenis de sardão e de lagarto-de-água e outros répteis. Também se alimentam de passeriformes, insectos e outros invertebrados e pequenos anfíbios.

Morfologia Externa e Identificação
Biometrias: É uma víbora de tamanho médio, que normalmente tem um comprimento máximo de 60 cm, mas ocasionalmente pode chegar aos 70 cm.
Adulto: É uma víbora com a cabeça bem diferenciada do corpo, com forma triangular e escamas cefálicas idênticas às do resto do corpo. A cauda é curta e muito mais fina que o resto do corpo. Na extremidade do focinho tem 3 a 7 escamas apicais (geralmente tem 5) que formam um apêndice nasal, típico da espécie (daí provém o nome “cornuda”). O dorso está coberto por escamas carenadas.
A víbora-cornuda tem a pupila vertical e a íris amarelada. A coloração do dorso é variável, geralmente cinzenta nos machos e castanha nas fêmeas. Na região vertebral nota-se um desenho que consiste numa banda dorsal escura disposta em zigue-zague. Na cabeça (parte posterior) existem ainda, normalmente, duas manchas escuras que formam um “V” invertido. O ventre pode ser esbranquiçado ou acinzentado, com algumas manchas irregulares.
O dimorfismo sexual é pouco acentuado, sendo que há uma pequena diferença na cor dorsal e para além disso, os machos têm a cauda mais larga a seguir à cloaca e ligeiramente mais comprida.
Juvenil: Os recém-nascidos medem entre 15 e 20 cm de comprimento e apresentam uma coloração e desenhos semelhantes aos adultos, mas que podem ser mais contrastados.
Espécies similares: a víbora-cornuda é facilmente distinguida das outras espécies pela presença do apêndice nasal, no entanto, os répteis são muitas vezes animais que fogem rapidamente e não se deixam observar por muito tempo, o que pode dificultar a identificação. Nestes casos, esta espécie pode ser confundida com a víbora-de-Seoane (Vipera seoanei) e com a cobra-de-água-viperina (Natrix maura). Distingue-se da primeira por apresentar um focinho mais proeminente e a cabeça mais triangular e da segunda por ter placas cefálicas subdivididas (escamas de menores dimensões), por ter pupila vertical e novamente pelo focinho proeminente.

© Armado Caldas
Diferença no focinho entre a víbora-cornuda (esquerda) e a Víbora-de-Seoane (direita).

Reprodução
A época de reprodução tem início na Primavera (cópula entre março e maio), mas pode apresentar ainda um segundo período de atividade sexual entre setembro e outubro. As fêmeas não se reproduzem todos os anos, normalmente apenas de 3 em 3 anos e a espécie é ovovivípara (os ovos desenvolvem-se dentro do corpo da progenitora), nascendo 5 a 8 crias, normalmente, no final do Verão.
A maturidade sexual é atingida quando o comprimento corporal ronda os 30 a 40 centímetros.

https://photos.smugmug.com/photos/i-dVTw8ng/0/73f77edb/L/i-dVTw8ng-L.jpg

Bibliografia
› Almeida., N.F., Almeida, P.F., Gonçalves, H., Sequeira, F., and Almeida, J.T.F.F. (2001). Guia FAPAS – Anfíbios e Répteis de Portugal. (FAPAS, Porto)
› Cabral, M.J., Almeida, J., Almeida, P.R., Dellinger, T., Ferrand de Almeida, N., Oliveira, M.E., Palmeirim, J.M., Queirós, A.I., Rogado, L., and Santos-Reis, M. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. 659.
› Godinho, R., Teixeira, J., Rebelo, R., Segurado, P., Loureiro, A., Álvares, F., Gomes, N., Cardoso, P., Camilo-Alves, C., and Brito, J. (1999) Atlas of the continental Portuguese herpetofauna: an assemblage of published and new data. Rev. Esp. Herp. 13:61-82
› Loureiro, A., Paulo, O.S., Ferramd de Almeida, N., Carretero, M.A., and Paulo, O.S. (2008). Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal (Lisboa).
› Speybroeck, J., Beukema, W., Bok, B., and Van Der Voort, J. (2016). Field guide to the Amphibians and Reptiles of Britain and Europe (London: Bloomsbury Publishing Plc).
http://www.iucn.org/
http://naturlink.sapo.pt/Natureza-e-Ambiente/Fichas-de-Especies/content/Ficha-da-Vibora-cornuda?bl=1&viewall=true#Go_1


6 thoughts on “Víbora-cornuda (Vipera latastei)”

  1. Orlando Lopes da Cunha

    Muito interessante.
    Julgo ter avistado um exemplar de víbora cornuda, no Verão passado, em Afife – Viana do Castelo, junto de um muro de granito, numa zona de vegetação rasteira.
    Teria pouco mais de 30cm, fugiu após alguns segundos depois de me avistar. Pareceu-me ter dois matizes de cinzento sobre branco feldspato. A poucos metros jazia um pequeno rato do campo. Não tinha sinais de dentadas, contudo.
    Achei que poderia ter alguma utilidade relatar este avistamento para
    confirmar que esta víbora se pode encontrar também no Noroeste do nosso país. Afife fica a ca. 10km a Norte de Viana do Castelo.

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