Lagartixa-de-Bocage (Podarcis bocagei)

A lagartixa-de-Bocage (Podarcis bocagei) é uma espécie endémica do Noroeste da Península Ibérica. Durante a época de reprodução os machos exibem cores vibrantes, o que os distingue das fêmeas que apresentam cores mais neutras.

Taxonomia
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Família: Lacertidae
Género: Podarcis
Espécie: Podarcis bocagei

Esta espécie era composta por três subespécies diferentes, P. b. bocagei, P. b. berlengensis eP. b. carbonelli, mas depois de estudos genéticos e morfológicos no início do século XXI, concluiu-se que as duas últimas subespécies pertenciam na realidade a uma espécie diferente, a qual ficou conhecida como lagartixa-de-Carbonell (Podarcis carbonelli). A outra subespécie corresponde às atuais populações da lagartixa-de-Bocage.

Estatuto de Conservação e Abundância
Devido ao facto de a lagartixa-de-Bocage ser uma espécie comum em quase toda a sua área de distribuição, de ser pouco exigente em termos ecológicos e de as populações aparentarem estar estáveis, foi classificada em Portugal e a nível Mundial com o estatuto de conservação “Pouco Preocupante”.

Portugal

Mundial

Distribuição
A lagartixa-de-Bocage é um endemismo do Noroeste da Península Ibérica, o que significa que apenas existe nesta região do planeta. Distribui-se principalmente a Norte do rio Douro, sendo o limite Sul da sua distribuição sensivelmente entre os 25 a 30 km de distância deste rio. Nesta região encontra-se em locais não muito afastados do litoral, mas à medida que se avança para o norte, a espécie pode ser encontrada mais para o interior, sendo progressivamente mais rara à medida que se faz notar com maior intensidade a influencia mediterrânica. Pode ser encontrada por toda a Galiza e atinge as províncias de Zamora e Leon, as Astúrias e a Cordilheira Cantábrica, com a exceção de algumas zonas mais áridas. Em Portugal está fortemente relacionada com o clima de influência atlântica, não penetrando em áreas de marcada influência mediterrânica do Nordeste Transmontano. Ou seja, existe de forma contínua na metade Oeste do país sobretudo a norte do rio Douro (com exceção de uma pequena área que se estende desde o litoral a norte de Espinho até às Serras da Freita e Gralheira), sendo também encontrada na região mais ocidental e húmida de Trás-os-Montes.

Ecologia e Comportamento
Habitat: Ocorre uma grande diversidade de habitats, mesmo em zonas urbanizadas. No entanto, os bosques caducifólios, matagais e pastagens húmidas são os habitats mais característicos. São animais frequentemente observados quer em substrato rochoso, quer no solo, incluindo dunas costeiras, ou em taludes de terra, sob vegetação arbustiva em caminhos florestais. Não tem um carácter tão rupícola como a lagartixa-de-Guadarrama (Podarcis guadarramae), com a qual coabita em toda a sua distribuição em Portugal. Encontra-se desde o nível do mar até aos 1500m, no Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Comportamento: Normalmente esta espécie hiberna entre novembro e fevereiro, embora se as temperaturas não descerem dos 10°C podem ser observados exemplares ativos ao longo de todo o ano. Durante este período de hibernação refugiam-se debaixo de raízes e pedras. É normalmente a partir de fevereiro/março que a atividade da lagartixa-de-bocage se inicia, prolongando-se até novembro.
Predadores e Estratégias de Defesa: Tem como principais predadores várias cobras, como a cobra-lisa-europeia (Coronella austriaca), a cobra-lisa-meridional (Coronella girondica), a cobra-de-escada (Rhinechis scalaris) e as víboras (Vipera latastei e Vipera seoanei), o sardão (Timon lepidus) e algumas aves, como o peneireiro-comum (Falco tinnunculus). Para evitar ser predada, a lagartixa-de-Bocage tem como principais mecanismos de defesa a fuga e a capacidade de autotomia da cauda.
A longevidade máxima registada para esta espécie é de quatro anos.
Dieta: é uma espécie insectívora, sendo a sua dieta composta sobretudo por aranhas e coleópteros (escaravelhos).

© Daniel Santos Photography
Macho durante a época de reprodução.

Morfologia Externa e Identificação
Biometrias: Os adultos medem cerca 7 cm da cabeça ao final do corpo (sem contar com a cauda).
Adulto: A lagartixa-de-Bocage apresenta um corpo robusto e cilíndrico, sendo a cabeça alta e relativamente curta com o focinho arredondado (vista lateralmente forma um arco convexo) e órbitas oculares pouco ou nada proeminentes.
O dorso, nos machos, é geralmente manchado de verde escuro e as zonas dorsolaterais são verde intenso e apresentam limites irregulares. Já as fêmeas apresentam geralmente uma coloração dorsal acastanhada com linhas dorsoventrais de cor verde ou amarela, com limites nítidos. O ventre dos machos durante o período de reprodução adquire uma coloração amarela intensa ou laranja, enquanto que as fêmeas mantêm a mesma cor durante todo o ano (cor creme, branco sujo ou amarelo claro). Os machos são também maiores do que as fêmeas.
Em geral, em ambos os sexos a região da garganta apresenta pontos negros de contornos bem definidos, que em muitos casos ocupam a sua superfície total. Para além disso, quase todos os exemplares apresentam no ventre quatro a seis fileiras de pontos negros.

Juvenil: No geral, os juvenis apresentam um padrão dorsal muito semelhante ao das fêmeas adultas, sendo a cor acastanhada, enquanto que a cauda é esverdeada e o ventre esbranquiçado.
Espécies similares: A lagartixa-de-Bocage pode ser confundida com a lagartixa-de-Guadarrama e com a lagartixa-de-Carbonell. É maior, mais robusta e a altura da cabeça é significativamente maior do que a lagartixa-de-Guadarrama. Em relação à lagartixa-de-Carbonell, é também maior e as linhas dorsolaterais são contínuas.

© Daniel Santos Photography
Macho durante a época de reprodução. Pormenor da cabeça.

Reprodução
As cópulas ocorrem desde março até julho e o tamanho da postura varia entre dois e nove ovos, que acabam por eclodir cerca de dois a três meses depois, entre junho e setembro. Nalgumas populações podem ocorrer até três posturas por ano. A maturidade sexual é atingida quando apresentam um comprimento de pelo menos 44 a 45 mm nas fêmeas e nos machos de 46 a 50 mm, o que acontece apenas no segundo ano de vida.

Referências
› Almeida., N.F., Almeida, P.F., Gonçalves, H., Sequeira, F., and Almeida, J.T.F.F. (2001). Guia FAPAS – Anfíbios e Répteis de Portugal. (FAPAS, Porto)
› Cabral, M.J., Almeida, J., Almeida, P.R., Dellinger, T., Ferrand de Almeida, N., Oliveira, M.E., Palmeirim, J.M., Queirós, A.I., Rogado, L., and Santos-Reis, M. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. 659.
› Godinho, R., Teixeira, J., Rebelo, R., Segurado, P., Loureiro, A., Álvares, F., Gomes, N., Cardoso, P., Camilo-Alves, C., and Brito, J. (1999) Atlas of the continental Portuguese herpetofauna: an assemblage of published and new data. Rev. Esp. Herp. 13:61-82
› Loureiro, A., Paulo, O.S., Ferramd de Almeida, N., Carretero, M.A., and Paulo, O.S. (2008). Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal (Lisboa).
› Speybroeck, J., Beukema, W., Bok, B., and Van Der Voort, J. (2016). Field guide to the Amphibians and Reptiles of Britain and Europe (London: Bloomsbury Publishing Plc).
› http://www.iucn.org/


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