Narceja-comum (Gallinago gallinago)

A narceja-comum (Gallinago gallinago) é uma limícola que pode ser observada em zonas húmidas por todo o país durante o inverno. O padrão da sua plumagem torna-a difícil de detetar quando escondida por entre a vegetação, no entanto, as suas vocalizações são inconfundíveis ajudando a sua identificação.

 [© Armando Caldas, todos os direitos reservados]

Taxonomia
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Charadriiformes
Família: Scolopacidae
Género: Gallinago
Espécie: Gallinago gallinago
 
Ecologia
Estatuto de conservação em Portugal: “Criticamente em perigo” (CR) em Portugal continental, visto que a população reprodutora é extremamente reduzida (estimada em 2-4 casais por ano). “Informação Insuficiente” (DD) nos Açores, embora segundo Rodrigues et al. (2011) a população está estimada entre 378 e 418 pares reprodutores..
A narceja-comum ocorre no Norte e Centro da Europa, na Ásia e em África (ver aqui mapa de distribuição). Em Portugal continental durante o inverno existe praticamente em todo o território, no entanto, é mais numerosa no litoral e nas várzeas dos grandes rios, como o Mondego, o Tejo e o Sado. É também importante referir que não é de forma alguma escassa no interior. No resto do ano a distribuição é muito restrita, apenas existe nos prados ao redor de Montalegre, em alguns locais junto ao rio Cávado, alguns pontos no Planalto da Mourela e em algumas ilhas do arquipélago dos Açores.
Esta variação de indivíduos durante o ano é explicada pelo facto da espécie ser principalmente invernante. As primeiras narcejas migradoras chegam no início de agosto, embora os números sejam reduzidos até finais de Setembro, surgindo a maior parte das aves a partir de outubro. Em março e abril a maioria dos indivíduos parte, mas ocasionalmente em maio ainda é possível observar algumas aves migradoras. As narcejas invernantes em Portugal têm origem de uma vasta área que vai da Islândia e do Reino Unido à Finlândia, á ex-Checoslováquia, à Áustria e à Ucrânia.
Em Portugal habita terrenos agrícolas alagados, pastagens encharcadas, ETAREs, açudes e ribeiras ou rios de curso lento desde que as margens sejam lamacentas ou apresentem prados húmidos. Entre os habitats de preferência encontram-se os pauis com caniço, junco e áreas de erva curta e lama. Nestes locais é possível em alguns casos observar concentrações de mais de uma centena de aves.
É durante o início da manhã e no final do dia que esta espécie está mais ativa. Tem como principais inimigos naturais algumas rapinas e o ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) que preda os seus ovos.
Alimentação: Sobretudo invertebrados, que apanham com o seu longo bico enterrando-o no solo mole.

Morfologia Externa e Identificação
Comprimento: Entre 23 – 28 cm.
Envergadura: Entre 39 – 45 cm.
Limícola de dimensão média de forma relativamente atarracada, com bico direito e muito longo (6 a 7 cm). Como é normal deste grupo de aves, possui patas compridas, embora esta característica nem sempre seja evidente visto que muitas vezes se encontra agachada. A plumagem tem tons acastanhados, com riscas amareladas e na cabeça nota-se uma listra pálida. Este padrão permite uma camuflagem extremamente eficiente, sendo difícil a sua observação nos seus habitats preferidos. Os flancos têm barras escuras e o abdómen é branco, embora seja difícil de distinguir esta característica de alguns ângulos. Em voo é possível reparar na orla branca das asas, favorecendo a identificação desta espécie.
Quando espantada (geralmente entre os 10 e 15 m), voa em ziguezagues rápidos e emite um chamamento, subindo depois rapidamente num voo enrolado.
Pode ouvir as vocalizações da narceja-comum aqui.

 [© Armando Caldas, todos os direitos reservados]

Reprodução
A época de reprodução em Portugal continental é (ou pelo menos era, em meados do século XX) bastante longa, encontrando-se ninhos com ovos desde inícios de maio até inícios de agosto. As narcejas podem realizar uma ou duas posturas, que são compostas normalmente por 4 ovos e a incubação dura 18 a 21 dias. As crias poucas horas após nascerem são capazes de caminhar e de se alimentarem sozinhas, mas seguem sempre os progenitores que as guiam para as melhores zonas de alimentação e as protegem dos predadores. Estas começam a voar passados 19 a 20 dias de idade.
Os ninhos são construídos de forma a ficarem muito bem escondidos no chão, por entre erva relativamente curta.
 

Bibliografia
Cabral, M.J., Almeida, J., Almeida, P.R., Dellinger, T., Ferrand, A.N., Oliveira, M.E., Palmeirim, J.M., Queirós, A.I., Rogado, L., and Santos-Reis, M. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. (Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa).
Catry, P., Costa, H., Elias, G., and Matias, R. (2010). Aves de Portugal: Ornitologia do Território Continental. (Lisboa: Assírio & Alvim).
Rodrigues, T., Gonçalves, D. (2011). Notes on breeding snipe on São Jorge Is. (Azores, Portugal).
Rodrigues, T., Silva, T., Rodrigues, M., Pereira, C., Lurdes, S., Pimenta, M., Gonçalves, D. (2013). Current state of the breeding population of Common Snipe in mainland Portugal. In: Ferrand Y. (ed). 7th European Woodcock and Snipe Workshop. May 16-18, 2011. Saint-Petersburg, Russia.
Svensson, L. (2012). Guia de Aves (2º edição). Assírio & Alvim, Porto.
http://naturlink.sapo.pt/Natureza-e-Ambiente/Fichas-de-Especies/content/Ficha-da-Narceja?bl=1&viewall=true#Go_1
http://maps.iucnredlist.org/map.html?id=22693097

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