Licranço (Anguis fragilis)

Este é um dos casos em que se pode dizer que as aparências iludem. O licranço (Anguis fragilis) é um lagarto sem membros,  susceptível de ser  confundido com cobras pelas pessoas menos experientes na matéria. Estes répteis  são completamente inofensivos e não são venenosos como muita gente pensa.

 [© Daniel Santos, todos os direitos reservados]

Taxonomia
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Família: Anguidae
Género: Anguis
Espécie: Anguis fragilis
 
Ecologia
Estatuto de conservação em Portugal: “Pouco preocupante” (LC). A utilização de pesticidas e a destruição de habitat são as principais ameaças, no entanto, o atropelamento também é responsável por elevadas taxas de mortalidade.
O licranço está amplamente distribuído pela Europa (exceto Escandinávia, Irlanda e ilhas mediterrâneas), Turquia, Irão e Rússia, sendo a sua presença no Norte de África um pouco duvidosa. Em Portugal ocorre no Norte e Centro do país, sendo o seu limite meridional a Serra de Sintra e a Península de Setúbal.
Preferencialmente habita locais com alguma humidade como prados e sub-bosques, com abundante cobertura vegetal. Também pode ocorrer em zonas cultivadas. Evita locais muito expostos e secos, assim como locais permanentemente alagados e refugia-se debaixo de troncos, pedras e galerias de roedores. É possível observar esta espécie tanto ao nível do mar como em regiões montanhosas, até aos 1800 m na Serra da Estrela.
O licranço tem hábitos crepusculares ou noturnos, mas quando em condições de temperatura e humidade moderadas, pode ser observado durante o dia.
Trata-se de uma espécie que está ativa desde Março/Abril até Outubro/Novembro, invernando durante o resto do ano. Em comparação com os restantes répteis é bastante resistente ao frio. Durante o período de hibernação utiliza refúgios subterrâneos, que pode partilhar com outros répteis da mesma espécie e/ou com répteis de espécies diferentes.
A longevidade desta espécie é bastante grande, existindo registos de indivíduos que em cativeiro sobreviveram durante 54 anos. Como principais predadores incluem-se mamíferos (como a lontra (Lutra lutra), a raposa (Vulpes vulpes), a gineta (Genetta genetta), o texugo (Meles meles) e o javali (Sus scrofa)), aves de rapina, numerosas cobras e o sardão (Timon lepidus).
Ao contrário do que muita gente pensa esta não é uma espécie venenosa, é absolutamente inofensiva, cujo o seu principal mecanismo de defesa consiste na capacidade de autotomia da cauda.
Alimentação: Invertebrados como caracóis, lesmas, minhocas, aranhas e insetos. Ocasionalmente os adultos podem predar urodelos, pequenas cobras, lagartixas e até mesmo juvenis da mesma espécie.
 
Morfologia Externa e Identificação
Comprimento: normalmente 230 mm, no entanto pode passar os 290 mm.
Réptil serpentiforme, desprovido de membros, com pescoço pouco percetível, focinho arredondado e cabeça pequena. A cauda é muito comprida, do mesmo tamanho que o corpo, ou até mesmo superior em alguns casos. O corpo está coberto de escamas lisas e brilhantes, que transmitem alguma fragilidade, e na zona pré-anal existem 4 escamas diferenciadas (escamas pré-anais).
O dorso é acinzentado, castanho-escuro ou creme, com reflexos metalizados e uma linha vertebral escura. A região ventral é cinzenta ou negra.
Os flancos são da mesma cor que o dorso no caso dos machos e são marcadamente mais escuros no caso das fêmeas. Nos machos predominam desenhos mais uniformes e menos contrastados e podem aparecer pequenos ocelos azuis. Estes também são mais robustos que as fêmeas e têm a cabeça maior e mais diferenciada do resto do corpo.

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Reprodução
A época de reprodução inicia-se em abril e prolonga-se até junho, período e que é habitual ocorrerem lutas entre machos. Para iniciar a cópula, o macho mordisca a fêmea na parte anterior do corpo e, de seguida, entrelaça a sua cauda na da fêmea, ocorrendo o acasalamento. O licranço é ovovivíparo, nascendo 6 a 22 crias entre Agosto e Outubro. No caso dos machos, a maturidade sexual é alcançada após 3 anos de idade e após 4/5 anos, no caso das fêmeas. No entanto, estas não se reproduzem todos os anos.
 
Bibliografia
Cabral, M.J., Almeida, J., Almeida, P.R., Dellinger, T., Ferrand, A.N., Oliveira, M.E., Palmeirim, J.M., Queirós, A.I., Rogado, L., and Santos-Reis, M. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. (Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa).
Almeida., N.F., Almeida, P.F., Gonçalves, H., Sequeira, F., and Almeida, J.T.F.F. (2001). Guia FAPAS Anfíbios e Répteis de Portugal. (FAPAS, Porto)
http://naturlink.sapo.pt/Natureza-e-Ambiente/Fichas-de-Especies/content/Ficha-do-Licranco?bl=1&viewall=true#Go_1

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