Sapo-parteiro-comum (Alytes obstetricans)

O sapo-parteiro-comum (Alytes obstetricans) é um pequeno sapo conhecido pelo facto do macho transportar os ovos no dorso, característica que resultou no seu nome comum. Pode ser encontrado em diferentes habitats, mas a presença de massas de água na vizinhança é crucial. 

Taxonomia
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Amphibia
Ordem: Anura
Família: Discoglossidae
Género: Alytes
Espécie: Alytes obstetricans

Em Portugal, existem duas subespécies diferentes, A. o. Pertinax, presente no Nordeste de Portugal e A. o. Boscai, que pode ser encontrado no resto do Norte do país e centro do país.

© Armando Caldas
Sapo-parteiro-comum adulto

Estatuto de Conservação e Abundância
Em Portugal está classificado com o estatuto de conservação “Pouco Preocupante”, no entanto, é importante referir que existem várias populações isoladas, que podem acabar por desaparecer devido à atividade humana, por destruição de habitat. A nível mundial está classificado com o mesmo estatuto.

Portugal

Mundial

Distribuição
O sapo-parteiro-comum distribui-se pelo Norte de Marrocos, Península Ibérica, França, Norte da Suíça e pela metade meridional da Bélgica e da Alemanha. Em Portugal, ocorre de forma praticamente contínua na metade norte até ao rio Tejo, com a exceção de uma pequena faixa no litoral, que se estende desde o Baixo Vouga até Sintra, onde apresenta uma distribuição pontual e fragmentada. A sul do rio Tejo está apenas presente na Serra de S. Mamede.

Ecologia e Comportamento
Habitat: Ocupa variados tipos de habitats, normalmente associados a massas de água permanentes (tais como ribeiros, charcos, tanques e lagos de montanha), de forma a possibilitar o prolongado desenvolvimento larvar desta espécie. Habita tanto em áreas montanhosas, como em campos agrícolas, prados, bosques e até zonas urbanas. Ocorrem desde o nível do mar até aos 1960 m, na Serra da Estrela. 
Comportamento: O sapo-parteiro-comum tem o seu pico de atividade durante o crepúsculo e durante a noite, mas em dias nublados e húmidos também pode se encontrar ativo de dia. Não é propriamente uma espécie muito resistente a temperaturas extremas e, por isso, hiberna nas zonas de maior altitude e pode estivar nas zonas mais quentes. Por outro lado, nas regiões mais amenas está ativo durante todo o ano.
As várias espécies de sapo-parteiro, incluindo o sapo-parteiro-comum, apresentam um comportamento característico e que dá nome ao género Alytes – os machos transportam no seu dorso um conjunto de ovos, durante várias semanas, até este eclodirem. Mais sobre este comportamento na secção “Reprodução”.
Predadores e Estratégias de Defesa: Os seus principais predadores são as cobras-de-água (Natrix maura e Natrix natrix), diversos mamíferos carnívoros e aves. As larvas, para além dos animais referidos anteriormente, são predadas por larvas de libélula, outras espécies de anfíbios e escaravelhos aquáticos. O sapo-parteiro-comum pode viver mais de 5 anos.
Dieta: A dieta dos adultos baseia-se em invertebrados, tais como centopeias, escaravelhos, moscas, aranhas e lesmas. As larvas alimentam-se de matéria vegetal e invertebrados aquáticos.

© Armando Caldas
Sapo-parteiro-comum adulto

Morfologia Externa e Identificação
Comprimento: Os adultos medem entre 40 e 50 mm. As larvas são grandes, medindo normalmente entre 60 e 70 mm, mas em alguns casos podem alcançar os 90mm.
Adulto: Sapo pequeno de aspeto robusto, com cabeça grande e focinho arredondado. Tem também olhos grandes, proeminentes, com pupila vertical e íris dourada com pigmentação negra. O tímpano é bem visível e as glândulas parótidas pouco definidas. Os membros são relativamente curtos e robustos; os anteriores têm 4 dedos e 3 tubérculos palmares e os posteriores têm 5 dedos sem tubérculos palmares e com membranas interdigitais reduzidas.
A coloração dorsal é variável, havendo predominância de tons acinzentados com diversas manchas esverdeadas ou negras. Pode ainda apresentar verrugas amarelas ou alaranjadas distribuídas pelo dorso e membros. O ventre é esbranquiçado com manchas e pontos escuros.
O dimorfismo sexual é pouco acentuado, sendo as fêmeas ligeiramente maiores que os machos. Para além disto, os machos carregam as posturas no dorso tornando-os facilmente distinguíveis durante a época de reprodução.
Larva: As larvas são maiores que os adultos e apresentam o dorso acastanhado, com pontos escuros e pequenas manchas quase douradas. Na região ventral predominam cores claras com manchas e geralmente têm uma franja prateada desde o espiráculo até quase ao ânus.          
Espécies similares: O sapo-parteiro-ibérico (Alytes cisternasii) é uma espécie bastante similar ao sapo-parteiro-comum, com o qual coexiste em algumas regiões. No entanto, é possível diferencia-los através do número de tubérculos palmares, 2 em A. cisternasii e 3 em A. obstetricans. O sapo-parteiro-ibérico é também uma espécie mais pequena, tem um corpo mais robusto, apresenta o quarto dedo de cada pata anterior mais largo e curto e o dorso é mais rugoso. Os cantos destas duas espécies são muito parecidos dificultando a sua distinção, mas para além disso é também idêntico a uma das vocalizações do mocho-d’orelhas (Otus scops).

Sapo-parteiro-comum adulto

Sapo-parteiro-comum adulto
© Armando Caldas
Larva de sapo-parteiro-comum

Reprodução
No início da Primavera os machos começam a cantar perto dos seus refúgios, tendo as fêmeas preferência pelos cantos mais graves, correspondendo aos machos de maiores dimensões. Os machos não têm sacos vocais, mas emitem sons usando a cavidade vocal como caixa de ressonância. O amplexo é inguinal e ocorre, normalmente, em terra. As fêmeas quando estimuladas pelo macho libertam um cordão que contém até 80 ovos. Após o macho fecundar os ovos enrola-os nas suas patas traseiras, podendo cada indivíduo transportar até 3 posturas ao mesmo tempo durante 1 a 2 meses, mantendo a humidade adequada para o seu desenvolvimento. Durante todo este período os machos não se alimentam e é nesta altura que finalmente se deslocam a uma massa de água, onde permanece até todos os ovos terem eclodido. Existe a possibilidade de cada fêmea ter até 3 posturas por período reprodutivo.
A maturidade sexual é atingida no segundo ou terceiro ano de vida.

© Armando Caldas
Sapo-parteiro-comum macho a transportar ovos.

Referências
› Almeida., N.F., Almeida, P.F., Gonçalves, H., Sequeira, F., and Almeida, J.T.F.F. (2001). Guia FAPAS Anfíbios e Répteis de Portugal. (FAPAS, Porto)
› Cabral, M.J., Almeida, J., Almeida, P.R., Dellinger, T., Ferrand de Almeida, N., Oliveira, M.E., Palmeirim, J.M., Queirós, A.I., Rogado, L., and Santos-Reis, M. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. 659.
› Loureiro, A., Paulo, O.S., Ferramd de Almeida, N., Carretero, M.A., and Paulo, O.S. (2008). Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal (Lisboa).
› Speybroeck, J., Beukema, W., Bok, B., and Van Der Voort, J. (2016). Field guide to the Amphibians and Reptiles of Britain and Europe (London: Bloomsbury Publishing Plc).
› http://www.iucn.org/

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *