A raposa pode ser encontrada por todo país, sendo provavelmente o carnívoro mais comum de Portugal. É conhecida por ser astuta e matreira, o que reflete o seu carácter oportunista e a sua grande capacidade de adaptação.
Taxonomia
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Família: Canidae
Género: Vulpes
Espécie: Vulpes vulpes
Há autores que consideram que as populações ibéricas (V. vulpes silacea) pertencem a uma subespécie diferente às do resto da Europa (V. vulpes crucigera), no entanto, esta divisão não é consensual.
Estatuto de Conservação e Abundância
A raposa é uma espécie muito comum em Portugal e está, por isso, classificada com o estatuto “Pouco Preocupante”. A nível mundial está classificada com o mesmo estatuto devido à sua distribuição alargada.
Apesar disso a raposa enfrenta várias ameaças no nosso país que pode pôr em causa a sua abundância no futuro, sendo a atividade cinegética, especialmente a ilegal, muito provavelmente uma das principais. Outra ameaça importante é a fragmentação e destruição do habitat, principalmente as estruturas de acesso, como estradas e autoestradas. Segundo um estudo de realizado por Grilo et al. (2009), só no Alentejo morrem por ano, em média 20 raposas por cada 100 km de estrada.
Portugal
Mundial
Distribuição
É o carnívoro com a distribuição mais ampla a nível mundial, não só devido à sua grande capacidade de adaptação, mas também por ter sido introduzido pelo Homem em alguns locais (Austrália e Nova Zelândia). Ocorre por toda a Europa, exceto na Islândia, e está ainda presente na Ásia, Norte de África e América do Norte.
Em Portugal distribui-se de forma generalizada e uniforme por todo o território, estando ausente apenas na Madeira e nos Açores.
Ecologia e Comportamento
Habitat: A raposa-vermelha ocorre em quase todos os tipos de habitats, mas de um modo geral, prefere zonas de habitats mistos, ocupando especialmente matagais em mosaico, lameiros, florestas e campos agrícolas. É também abundante em zonas pantanosas, montanhas, dunas e subúrbios de cidades. Quando procuram refúgio, preferem zonas com vegetação densa como matos, linhas de água ou carvalhais.
Comportamento: Tem sobretudo, uma atividade noturna e crepuscular, mas pode ser avistada durante o dia em locais onde a disponibilidade de alimento é menor ou onde a pressão humana é menor. À semelhança de outros canídeos, a raposa vive em grupos familiares, formados por um macho adulto e várias fêmeas (normalmente entre 2 e 4 fêmeas), havendo alguma hierarquia entre estas. A reprodução é, por vezes, exclusiva às fêmeas dominantes do grupo e nestes casos as restantes ajudam tomado conta, brincando e alimentando as crias. Nos grupos em que há mais do que uma fêmea a reproduzir, podem juntar as ninhadas e amamentá-las em conjunto.
O tamanho do grupo está dependente do tamanho do território, que é defendido ativamente, o que por sua vez depende da disponibilidade de alimento. Por exemplo, no Norte de Portugal o tamanho dos territórios varia entre 1,8 e 2,5 km2 e as raposas parecem percorrer em média cerca de 10km por dia à procura de alimento.
Apesar de viver em grupos, cada indivíduo caça e alimenta-se sozinho e como consequência caça por emboscada e não por perseguição como outros canídeos. A raposa é capaz de se deslocar de uma forma furtiva e silenciosa, caçando as suas presas com os seus característicos e ágeis saltos de grande amplitude.
A raposa é vista por muita gente como uma espécie que ataca as melhores peças de caça e os animais domésticos, o que não corresponde totalmente à verdade, pois esta acaba por ter um papel extremamente importante para a conservação das suas presas. Neste momento deve estar a questionar-se como isso é possível. A raposa tem uma tendência para caçar os animais mais doentes, velhos e fracos, prevenindo a expansão de doenças perigosas para estas espécies, como é o caso da Mixomatose e da Doença Hemorrágica Viral que tem dizimado as populações portuguesas de coelho-bravo.
Predadores e Estratégias de Defesa: Ocasionalmente, grandes predadores como o lobo (Canis lupus signatus), a águia-real (Aquila chrysaetos) e o lince-ibérico (Lynx pardinus) podem matar e alimentarem-se de raposas. A longevidade potencial de uma raposa na natureza varia entre os 9 e os 13 anos.
Dieta: a raposa é omnívora, apresentando uma dieta variada, que depende da disponibilidade de alimento e, por isso, varia com a região e época do ano. Os roedores, lagomorfos, aves, insetos (principalmente besouros), ovos e minhocas são as principais fontes de proteína animal, enquanto que os frutos são a principal fonte de alimento vegetal. É oportunista e, por isso, as carcaças de animais mortos e lixeiras também podem ser importantes. Em Portugal, o rato-do-campo (Apodemus sylvaticus) e outros roedores pertencentes ao género Microtus são as presas preferidas desta espécie de norte a sul do país.
Morfologia Externa e Identificação
Biometrias: É um dos maiores carnívoros de Portugal. O comprimento da cabeça mais corpo varia entre 58 e 90 cm e a cauda mede entre 32 e 48 cm entre 90 e 132 cm. Normalmente as fêmeas são mais pequenas do que os machos. Pesa em média entre 5 e 7 kg.
Adulto: A raposa é um animal bastante ágil, pois apresenta um corpo esguio e pernas longas e delgadas, estando adaptada à corrida e à caça solitária. A cabeça é pequena, com orelhas grandes, eretas e triangulares. Os olhos são grandes, de cor amarelo-acastanhado vivo, sendo o único canídeo com pupilas elípticas verticais. É conhecida pela sua cauda longa e farfalhuda, que muitas vezes tem a ponta branca. A pelagem é, geralmente, castanho-avermelhada com tons de cinzento, mas pode variar até cor de areia, sendo mais curta no Verão e mais longa e espessa no Inverno. As extremidades das patas e a parte de trás das orelhas são pretas. A subespécie que ocorre entre nós (Vulpes vulpes silacea) apresenta uma coloração menos brilhante e é comum a cauda ser cinzenta. A extremidade da cauda e a garganta são frequentemente brancas.
Não apresenta dimorfismo sexual muito marcado, mas as fêmeas são geralmente mais pequenas do que os machos.
Juvenil: Os juvenis nascem com cerca de 100 g, com os olhos azuis que vão progressivamente alterando de cor e com pelo castanho-escuro e aveludado. Às 4 semanas começam a desenvolver as caraterísticas dos adultos – o focinho achatado alonga-se e as orelhas crescem rapidamente – e às 7-8 semanas os juvenis já têm a aparência de um adulto, mas em ponto pequeno. Com seis meses de idade, já são praticamente indistinguíveis dos adultos.
Espécies similares: A raposa é muito fácil de identificar e não há outro animal na fauna portuguesa que se assemelhe a esta espécie.
Indícios de presença: A presença de excrementos, usados para marcar o território, é uma excelente forma de perceber por onde andam as raposas, sendo comum encontrá-los em cima de pedras e em pequenos montes de vegetação, de forma, a que sejam facilmente identificados por outros animais da mesma espécie. Estes normalmente medem entre 1,5 e 2,5 cm de largura e 5 e 10 cm de comprimento. São frequentemente segmentados, com pelo a ligar os segmentos e são pontiagudos nas extremidades. Atenção! Os excrementos da raposa não devem ser tocados, pois podem conter ovos de uma ténia que pode ser mortal para os humanos.
As pegadas são também um excelente indício de presença. As patas anteriores têm 5 dedos, mas o dedo mais interior está bastante subido e não deixa marca. As patas posteriores têm 4 dedos. As pegadas são parecidas com as de um cão pequeno, mas são normalmente mais longas e estreitas e medem entre 5 e 7 cm de comprimento e 4 e 4,5 cm de largura.
A existência de tocas com ossos de outros animais na entrada é também um bom indício da sua presença, sendo estas escavadas pelas fêmeas, ou então aproveitam e alargam as tocas dos coelhos ou dos texugos.
Reprodução
Os acasalamentos têm lugar entre dezembro e fevereiro e os nascimentos acontecem entre março e maio e é nesta altura que começam a procurar tocas onde as crias possam nascer. As tocas podem ser escavadas pelas próprias raposas ou então podem reaproveitar tocas pré-existentes de coelhos (Oryctolagus cuniculus) ou de outros animais como o texugo (Meles meles). As tocas têm muitas vezes várias entradas.
O período de gestação dura cerca de 53 dias e nascem 4 a 5 crias por ninhada, mas este número depende da disponibilidade de alimento. As crias nascem surdas e cegas e com um mês de idade já comem alimentos sólidos e nesta altura tanto o macho como a fêmea cuidam das crias, trazendo alimento para as tocas. O desmame dá-se às 6 semanas e as crias tornam-se independentes no outono. Cada fêmea tem apenas uma ninhada por ano. Tanto o macho como a fêmea participam nos cuidados parentais e as crias tornam-se independentes no outono, atingindo a maturidade sexual aos 10 meses.
Referências
› Bencatel, J., Sabino-Marques, H., Álvares, F., Moura, A.E., and Barbosa, A.M. (2019). Atlas de Mamíferos de Portugal.
› Cabral, M.J., Almeida, J., Almeida, P.R., Dellinger, T., Ferrand, A.N., Oliveira, M.E., Palmeirim, J.M., Queirós, A.I., Rogado, L., and Santos-Reis, M. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. (Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa).
› Grilo, C., Bissonette, J. A. E Santos-Reis, M. (2009). Spatial-temporal patterns in Mediterranean carnivore road casualties: consequences for mitigation. Biological Conservation, 142, 301-313.
› Loureiro, F., Pedroso, N.M., Santos, M.J. and Rosalino, L.M. (2012). Um Olhar Sobre os Carnívoros Portugueses. (Carnívora, Lisboa).
› Macdonald, D. e outros. 1993. Guias Fapas, Mamíferos de Portugal e Europa. Fapas
› http://www.iucnredlist.org/