Atualmente mais de 7.6 mil milhões de pessoas vivem no planeta Terra, mas as Nações Unidas prevêem que a população mundial poderá atingir os 10 mil milhões em 2056. Estes números são preocupantes, porque vivemos numa sociedade consumista, onde o que temos nunca é suficiente e como resultado estamos a usar 25% mais dos recursos naturais que o planeta consegue suportar. Para sustentar as nossas necessidades, temos vindo a destruir florestas únicas, a poluir sistemas aquáticos dos quais dependemos, a caçar e a pescar até ao limite, a usar pesticidas e herbicidas de forma desenfreada e muitas outras atividades que têm impactos negativos tremendos na sustentabilidade do nosso planeta e na sobrevivência de todas as espécies, incluindo a nossa.
Nas últimas décadas, temos vindo a experienciar uma perda dramática na biodiversidade, já considerada como a sexta extinção em massa. Cinco outras grandes extinções aconteceram algures no passado, sendo que a última foi há 66 milhões de anos. Um número incontável de populações de fauna e flora têm vindo a desaparecer nas últimas décadas, não devido a causas naturais como no passado, mas sim devido à atividade humana. Vejamos alguns exemplos. Os anfíbios estão representados sensivelmente por 7850 espécies conhecidas, das quais 32% estão ameaçadas e nas últimas duas décadas cerca de 168 espécies terão sido extintas. 13% das espécies de aves, 25% de todas as espécies de mamíferos, quase 30% das espécies dos recifes de coral e 34% das espécies de coníferas estão também listadas como ameaçadas. Estes são apenas alguns exemplos, sendo que estas tendências podem ser observadas na maioria, se não em todos os grupos de organismos.
A fotografia é conhecida como uma das formas mais eficazes de transmitir uma mensagem e de provocar emoções. Uma simples imagem pode mudar a forma de pensar e pode alertar para problemas que não sabíamos que eram realidade, ou que nunca tínhamos pensado antes. A fotografia de natureza não é diferente, pois pode ter um papel crítico ao alertar para os desafios ambientais que o planeta está a enfrentar. As nossas imagens dão voz às espécies e aos locais selvagens que, de outra forma, passariam despercebidos. Apesar de uma foto regular de um animal ou paisagem ter a sua importância e lugar na conservação da natureza, há um passo adicional que pode ser dado pelo fotógrafo, que é não só documentar a natureza e criar obras de arte, mas também fazer imagens que reconheçam as ameaças para as espécies e para a natureza em geral. Nos dias de hoje, não é suficiente apenas mostrar os animais bonitos numa paisagem perfeita! Nós precisamos de fazer imagens que inspirem as pessoas e que as motivem a alterar comportamentos e agir. Os fotógrafos são essenciais e elementos constantes nas estratégias de conservação. Seja para documentar, ilustrar, comparar, ou inspirar, as imagens são uma componente indispensável dos programas de conservação da natureza.
Um excelente exemplo de como a fotografia é importante para a conservação da natureza, é a viagem épica no Congo pelo fotógrafo da National Geographic, Michael “Nick” Nichols, que levou à criação de uma nova área protegida no Gabão.
Apesar de nunca ter feito uma viajem épica como a do Michael “Nick” Nichols, nem coisa que se pareça, tenho já algumas provas de que a fotografia é essencial para proteger o ambiente. Vejamos alguns desses exemplos.
Muitos mitos são criados à volta dos animais, tanto pela sua aparência, como pelo seu comportamento. Normalmente, a razão dessas histórias sem sentido é a falta de conhecimento sobre as mesmas. A região onde vivo (Porto), não é exceção. Muitos acreditam que os licranços (Anguis fragilis) são venenosos ao ponto de matarem uma pessoa adulta. Isso não poderia estar mais errado! Os licranços, ao contrário do que possa parecer, são lagartos que se alimentam de pequenos invertebrados e não cobras como muitos acham. Estes animais não produzem qualquer tipo de veneno e são, portanto, tão inofensivos quanto outros pequenos lagartos. São facilmente encontrados em campos agrícolas, acabando por ser mortos intencionalmente pelos agricultores. Ao mostrar imagens a estas pessoas e ao manusear licranços, consegui demonstrar que não existe razão para esta tradição de medo infundada. Hoje, quando uma cobra, licranço ou anfíbio são encontrados por alguém que conhece o meu trabalho, sou chamado para capturar e libertar o animal noutro local, na vez de o matarem. Este é o poder da fotografia, educa pessoas e pode mesmo salvar vidas (dos animais, claro)! Para mim, esta é a minha maior conquista como fotógrafo e como biólogo, mas espero fazer muito mais com o meu trabalho no futuro.
Eu comecei a minha carreira de fotógrafo amador, a fotografar animais com natureza imaculada nos arredores, mas hoje estou muito mais focado na fotografia da conservação da natureza. O meu objetivo é criar imagens que são esteticamente apelativas, mas que tenham impacto e que possam ser usadas para a conservação da natureza. Eu sinto que as pessoas necessitam de ver o que está de errado, que precisam de ficar chocadas e sentirem-se culpadas para agir. Por exemplo, eu comecei um projeto sobre os problemas dos atropelamentos nas estradas portuguesas para a conservação das espécies afetadas. Este é um problema sério em Portugal, assim como em muitos outros países por todo o Mundo, mas poucas são as pessoas que estão conscientes disso. Com imagens como a próxima, espero que as pessoas fiquem sensibilizadas e percebam que a forma como conduzimos pode ter impactos tremendos na fauna local.
Outro projeto em que estou a trabalhar está relacionado com a problemática das espécies invasoras, tanto flora como fauna. As espécies invasoras são consideradas dos maiores desafios da conservação da natureza a nível global. Os ecossistemas são resultado de milhares de anos de evolução e normalmente existe um certo equilíbrio na sua funcionalidade, mas quando uma espécie, que nunca existiu nesse local é introduzida, esse equilíbrio pode perde-se, levando ao desaparecimento de muitas populações autóctones. A vespa-asiática (Vespa velutina) é um excelente exemplo. Este animal extremamente agressivo, não tem predadores naturais no nosso país e é capaz de dizimar uma colmeia de abelhas autóctones em apenas alguns dias. Em 2011, foi feito o primeiro registo de um ninho de vespa-asiática, mas hoje já são aos milhares em diversos pontos do país. O meu objetivo com este trabalho é alertar as pessoas para os inconvenientes que as espécies exóticas (muitas vezes animais de estimação e plantas de jardim) podem trazer para a biodiversidade, quando libertadas na natureza.
Os desafios na conservação da natureza são cada vez mais e, por isso, a necessidade de imagens que toquem nos corações das pessoas também. Na minha opinião, a fotografia de natureza deveria seguir três critérios: mostrar não só a beleza e a inspiração que podemos encontrar na natureza, mas também a cruel e triste verdade da destruição da mesma e se possível o trabalho que os cientistas têm vindo a desenvolver para entender e fazer deste planeta um local melhor.
Muitos fotógrafos têm feito um trabalho incrível por todo o mundo, mas precisamos de mais, o planeta é demasiado grande e crimes ambientais acontecem por todo o lado, a cada segundo.
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