Ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus)

O ouriço-cacheiro é um inofensivo mamífero insectívoro, conhecido por estar coberto de espinhos, que o protege dos predadores. Pode ser encontrando frequentemente no nosso jardim onde procura alimento e refúgio e infelizmente é uma vítima comum de atropelamentos nas estradas portuguesas.

© Armando Caldas
Ouriço-cacheiro adulto.

Taxonomia
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Erinaceomorpha
Família: Erinaceidae   
Género: Erinaceus
Espécie: Erinaceus europaeus
 
Estatuto de Conservação e Abundância
As populações do ouriço-cacheiro, tanto em Portugal, como a nível mundial, parecem estar estáveis e, por isso, está classificado com o estatuto de conservação “Pouco Preocupante”. Apesar do seu estatuto, o ouriço-cacheiro é vulnerável a diversas atividades humanas. As principais causas de morte são os atropelamentos nas estradas, a fome durante a hibernação e a destruição de habitat. Podem ainda ser alvo de envenenamento devido à utilização de pesticidas e são frequentemente vítimas de máquinas de cortar vegetação.

Portugal

Mundial

Distribuição
Ocorre na maior parte da Europa Ocidental/Central (de Portugal à Polónia), incluindo Ilhas Britânicas, Escandinávia (exceto em território mais interior) e na zona mais ocidental da Rússia, mas está ausente do restante território Europeu. Em Portugal ocorre em todo o território, parecendo ser mais abundante na metade sul do país, embora seja comum por todo o território. Foi recentemente introduzido nalgumas ilhas dos Açores, estando a sua presença confirmada nas ilhas de São Miguel, Santa Maria, Terceira e Faial.

Ecologia e Comportamento
Habitat: O ouriço-cacheiro habita frequentemente zonas com arbustos e sebes, em zonas rurais ou semiurbanas. Geralmente prefere zonas húmidas, podendo ser encontrado em florestas de folha caduca, pastagens húmidas e prados. Também aparece associado a jardins e dunas com vegetação arbustiva. São raros em florestas de coníferas, campos de cereais, terrenos pantanosos e está ausente acima da linha de árvores nas serras. 
Comportamento: Esta espécie, à semelhança de outros mamíferos, hiberna durante os meses mais frios do ano e, para isso, constrói ninhos com gramíneas e folhas em tocas, conhecidos como hibernaculum, que são semelhantes aos ninhos construídos para os nascimentos das crias, podendo por vezes usar tocas de coelhos abandonadas. Nas áreas mais frias, a hibernação geralmente começa em outubro e dura até abril; em áreas mais quentes, os ouriços podem hibernar só durante os meses mais frios de inverno. Para sobreviverem às baixas temperaturas, os ouriços-cacheiros armazenam gordura, que serve de isolamento e é uma reserva de energia para despertar quando necessário. Essas interrupções periódicas na hibernação ocorrem a cada 1 a 2 semanas e duram entre 1 a 2 dias, durante os quais os ouriços se alimentam. Durante este período o metabolismo baixa consideravelmente; a temperatura corporal baixa dos 34º C para os 4-6º C e o ritmo cardíaco de 190 batimentos/minuto para 20.
No verão refugia-se na vegetação durante o dia, estando ativo principalmente durante a noite. É uma espécie solitária e, por isso, o macho e fêmea normalmente não partilham o mesmo ninho. Existe ausência de padrões de comportamento associado a demarcação territorial, tais como marcações odoríferas, e apesar de não ser uma espécie territorial, na natureza podem-se observar encontros agressivos. A visão é pouco desenvolvida, sendo compensada pelo olfato e pela audição. É um bom trepador e nadador e é capaz de passar por locais bastante estreitos.
Os ouriços não são uma espécie particularmente barulhenta, mas emitem grunhidos, roncos e guinchos roucos, sendo mais vocais durante o acasalamento, durante a alimentação e, ocasionalmente, quando capturados.
O ouriço-cacheiro tem um domínio vital relativamente grande para o seu tamanho, pois requer grandes áreas para procurar alimento, geralmente até 40 ha, no entanto, quando o alimento é abundante pode ser apenas de 5 ha. Os machos geralmente têm domínios vitais de maiores dimensões do que as fêmeas (normalmente entre os 15-40 ha vs 5-12 ha, respetivamente). A área percorrida por noite varia, mas pode chegar aos 25 ha no caso dos machos e aos 10 ha no caso das fêmeas.
Predadores e Estratégias de Defesa: Apesar de ser predado por alguns animais, como texugos, raposas, martas e muitos outros mamíferos carnívoros e algumas rapinas, o ouriço-cacheiro não é considerado a principal fonte de alimento de qualquer uma destas espécies. O texugo pode ser um dos seus principais predadores, pois as suas fortes garras permitem penetrar a camada de espinhos com alguma facilidade, estando normalmente os ouriços ausentes de locais com muitos texugos.
Em média o ouriço-cacheiro sobrevive durante três anos, mas pode chegar aos 10. Quando se sente ameaçado enrola-se, escondendo as partes desprovidas de espinhos e podem gritar como porcos.
Dieta: Principalmente invertebrados do solo, como escaravelhos, minhocas, lagartas, aranhas, lesmas, etc, tendo um importante papel no controlo de pestes nalguns locais. Ocasionalmente também pode alimentar-se de vertebrados, como sapos, lagartos, juvenis de roedores e de pássaros, assim como ovos de aves e carne em decomposição, incluindo peixe. Alimenta-se ainda de frutos e de cogumelos. 

© Daniel Santos Photography
Ouriço-cacheiro adulto a descansar.

Morfologia Externa e Identificação
Biometrias: No total mede entre 24,0 e 30,5 cm e em média pesa 700 g. Um animal que não pese pelo menos 500 a 600g, dificilmente sobreviverá ao período de hibernação. 
Adulto: A identificação do ouriço-cacheiro é muito fácil, visto que é o único mamífero da fauna portuguesa com o corpo coberto de espinhos (cerca de 6 mil), que não são mais do que pelos modificados. Estes espinhos bastante aguçados, têm cerca de 2-3 cm de comprimento e estão presentes por todo o dorso. Estes têm anéis claros e escuros alternados, com uma banda preta na ponta, que fazem variar a cor dos indivíduos entre o amarelado e o acastanhado. Na zona ventral e na cabeça tem pelo grosso e ralo, de cor castanho acinzentado. A muda não é sazonal, uma vez que os espinhos são mantidos durante bastante tempo, por exemplo 18 meses, sendo substituídos irregularmente.
Os olhos são grandes, as orelhas pequenas e a cauda é rudimentar. Não existe dimorfismo sexual evidente.
Juvenil: Os recém-nascidos medem cerca de 7 centímetros de comprimento e pesam entre 8,5 e 25,5 g. Estes aparentam não ter espinhos, que ficam ocultos sob sua pele cheia de líquido, mas cerca de 24 horas após o nascimento, o fluido é absorvido e os espinhos são revelados. Esses espinhos esbranquiçados são substituídos por espinhos mais escuros após cerca de 2 dias. Às 2 a 3 semanas de vida, finalmente aparecem os típicos espinhos de adulto.
Espécies similares: Em Portugal não existe qualquer outra espécie que possa ser confundida com o ouriço-cacheiro.
Indícios de presença: Os excrementos são depositados ao acaso e são grandes, firmes e com um cheiro forte. Têm entre 0,8 a 1 cm de diâmetro e entre 3 a 5 cm de comprimento e são pontiagudos numa das extremidades. Caracterizam-se também pela cor preta brilhante e por conterem normalmente partes duras de insetos. No entanto, no final do verão e no outono, podem conter frutos silvestres. Ocasionalmente, pode-se também encontrar pelos, penas e pequenos pedaços de osso nas fezes. Se o ouriço tiver comido apenas ratos ou pássaros, o excremento é de cor opaca, torto e muito fino.
Os ouriços-cacheiros têm cinco dedos em todos os pés, mas o dedo interno deixa uma marca muito fraca, sugerindo, por vezes, tratar-se de um animal de apenas quatro dedos. As pegadas das patas dianteiras e traseiras são muito parecidas, variando entre 2,5 e 4,5 cm de comprimento e entre 2,5 a 2,8 cm de largura. No entanto, a pegada anterior é um pouco mais larga do que a traseira e voltada para dentro, enquanto que a pegada posterior é um pouco mais longa e voltada para fora. Para além das fezes e das pegadas, deixam trilhos bem visíveis nas ervas altas.

© Daniel Santos Photography
Ouriço-cacheiro adulto.

Reprodução
A época de reprodução estende-se desde abril até agosto e a gestação ocorre entre maio e outubro, com o pico entre maio e setembro. O ritual de acasalamento consiste no macho e a fêmea andarem cerca de 1 hora em volta um do outro e durante este período a fêmea baixa a cabeça e faz uma série de bufos, grunhidos e assobios. Se o macho conseguir cortejar a fêmea, várias cópulas vão acontecer e de seguida o macho abandona-a e continuará a tentar acasalar com outras fêmeas. Apenas as fêmeas tomam conta dos juvenis, mas estas deixam-nos sozinhos durante toda a noite.
O período de gestação dura entre 31 e 35 dias e as ninhadas são normalmente compostas por 4 a 6 crias (embora possam nascer entre 2 e 10) que abandonam o ninho passados 22 dias. O desmame acontece passadas 4 a 6 semanas do nascimento das crias. A maturidade sexual é atingida aos 12 meses de idade.
Normalmente cada fêmea gera uma ninhada por ano, mas ocasionalmente pode gerar duas. A mortalidade das crias enquanto sob os cuidados parentais da fêmea, está estimada em 20%, mas ao longo do primeiro ano sobe para os 60-70%. Este último valor é consideravelmente mais alto, em parte devido às crias que não conseguem atingir o peso necessário para sobreviver à hibernação, principalmente as das ninhadas mais tardias.

Bibliografia
› Bencatel, J., Sabino-Marques, H., Álvares, F., Moura, A.E., and Barbosa, A.M. (2019). Atlas de Mamíferos de Portugal.
› Cabral, M.J., Almeida, J., Almeida, P.R., Dellinger, T., Ferrand, A.N., Oliveira, M.E., Palmeirim, J.M., Queirós, A.I., Rogado, L., and Santos-Reis, M. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. (Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa).
› Macdonald, D. e outros. (1993). Guias Fapas, Mamíferos de Portugal e Europa. Fapas
› Olsen, L. (2013). Tracks and Signs of the Animals and Birds of Britain and Europe. (Course Book ed.). Princeton: Princeton University Press.
http://www.iucnredlist.org/
https://animaldiversity.org/
http://naturlink.pt/

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