Existem alguns documentos que remetem para uma presença histórica do quebra-ossos (Gypaetus barbatus) no nosso país, no entanto, estas informações não são totalmente conclusivas. Este imponente abutre terá existido em praticamente todos os maciços montanhosos da Península Ibérica, encontrando-se atualmente apenas nas montanhas da Andaluzia e Pirenéus.
Taxonomia
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Accipitriformes
Família: Accipitridae
Género: Gypaetus
Espécie: Gypaetus barbatus
Distribuição Mundial
O quebra-ossos tem uma distribuição mundial alargada, ocorrendo na Europa, Médio Oriente, Centro e Sul da Ásia e Norte, Oeste e Sul de África. Apesar desta grande amplitude de ocorrência, muitas populações encontram-se isoladas, destacando-se as do Médio Oriente e da Ásia com uma distribuição mais contínua.
Na Europa, pelo menos durante os séculos XIX e XX, o quebra-ossos foi perseguido pelo Homem até à extinção em vários locais, dos quais Portugal e Alpes fazem parte. Felizmente hoje, fruto de um projeto de reintrodução bem-sucedido, podemos observar este belíssimo abutre nos Alpes, onde as populações têm prosperado e aumentado. Outro projeto de reintrodução está a acontecer na Andaluzia, parecendo também estar a dar frutos. Nos Pirenéus existe uma população importante, em 2007 era constituída por 119 pares reprodutores, que resistiu à pressão humana ao longo dos anos (ver mapa de distribuição aqui).
Atualmente a população mundial encontra-se em declínio e é composta por 1300-6700 indivíduos maturos. Tendo em conta estes dados a espécie está classificada como “Quase Ameaçada (NT)” pelo IUCN Red List.
Ecologia e Identificação
O quebra-ossos é um abutre enorme, com uma envergadura que varia entre os 2,35 e os 2,75 m. Apresenta asas invulgarmente estreitas e pontiagudas para uma rapina tão grande e, tal como o britango (Neophron percnopterus), possui a cauda cuneiforme. O britango tem uma silhueta parecida com a do quebra-ossos, mas é bem mais pequeno, a cauda é mais curta em proporção (no quebra-ossos é claramente mais comprida do que a largura da asa) e as asas são menos aguçadas.
Os adultos (Fig.1) têm a parte inferior do corpo, pescoço e cachaço de várias tonalidades de amarelo-torrado ou com matizes alaranjadas intensas, que contrastam com o tom escuro da face inferior das asas. A cabeça é esbranquiçada com duas largas linhas negras, que se prolongam desde os olhos até à base do bico, formando “barbichas”. Em voo, com boa luz, é possível notar que as pequenas e médias coberturas infra-alares são mais escuras que as restantes penas da asa. As partes superiores das asas são de um cinzento-chumbo.
Os juvenis (Fig. 2) caracterizam-se por terem o corpo cinzento ou acastanhado, que contrasta com a cabeça por esta ser mais escura. O manto, o uropígio e algumas coberturas são pálidas, enquanto que a restante parte superior é escura. A silhueta também é um pouco diferente, a cauda é mais curta e as asas são mais largas com as pontas mais arredondadas. As aves imaturas atingem o padrão de adulto aos 5 anos, embora possam manter a cabeça escura por mais tempo.
A espécie ocupa áreas montanhosas remotas com terreno acidentado, normalmente acima dos 1000 m e preferencialmente locais onde grandes predadores, com a águia-real (Aquila chrysaetos) e o lobo (Canis lupus), estão presentes.
O seu alimento principal são os ossos, que podem representar 85% da sua dieta, conseguindo os nutrientes a partir da medula óssea. Para ingerirem este alimento adquiriram a estratégia de largar os ossos enquanto voam (a 50-80 m de altura), para que se partam ao bater nas rochas (ver vídeo). A carne de mamíferos recém mortos também é importante, sobrepondo-se à carniça de que se alimenta em caso de penúria. O resto da alimentação é composta por tartarugas, tratando-as da mesma forma que os ossos. Na procura de alimento o quebra-ossos consegue percorrer mais de 700 Km num só dia.
Cada casal pode construir vários ninhos de grandes dimensões em grutas ou em fendas profundas de escarpas. Na Europa, as fêmeas põem 1 a 2 ovos entre Dezembro e Setembro e incubam-nos durante 55 a 60 dias. As crias permanecem no ninho cerca de 110 dias. Os quebra-ossos formam casais estáveis para toda a vida.
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Distribuição histórica e extinção em Portugal
Há registos já no século XVII que referem o quebra-ossos como residente no nosso país, no entanto, estes documentos não são totalmente conclusivos. Nos finais do século XIX, o rei D. Carlos refere nas suas notas a existência de “águias com barbas” na serra do Marão e que por lá nidificariam. Esta observação é bastante sugestiva, uma vez que a espécie deveria existir naquele tempo em praticamente todos os maciços montanhosos da Península Ibérica. O próprio rei abateu 2 dos indivíduos (um macho e uma fêmea) no vale do Guadiana, por volta de Junho de 1888, que estão conservados no Museu da Universidade de Coimbra. Não se conhecem registos da ocorrência de quebra-ossos em Portugal desde o final do século XIX até 2011. Durante este ano foram feitas observações de 2 aves diferentes, na Beira Interior e no Nordeste Transmontano, provenientes de libertações feitas em Espanha. Nenhuma destas aves permaneceu nosso território, mas tendo em conta o sucesso do projeto de reintrodução espanhol não é de descartar a hipótese de possíveis visitas mais regulares e até de recolonização.
Referências
Cabral, M.J., Almeida, J., Almeida, P.R., Dellinger, T., Ferrand, A.N., Oliveira, M.E., Palmeirim, J.M., Queirós, A.I., Rogado, L. and Santos-Reis, M. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. (Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa).
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