Corujas, os seus sentidos e a caça

As corujas e os mochos são aves de rapina, o que significa que têm de capturar animais para se alimentarem. A maior parte são nocturnas ou crepusculares, caçando durante estas alturas do dia.

"Para Fig. 1 [© Armando Caldas, todos os direitos reservados] – Coruja-do-mato (Strix aluco), espécie de hábitos estritamente nocturnos.

Possuem garras curvadas muito fortes e um bico potente e enganchado. Estas características são comuns às outras rapinas diurnas sendo essenciais no sucesso das caçadas. Alimentam-se sobretudo de pequenos animais vivos (como aves, mamíferos, insectos, répteis e anfíbios), que prendem com as garras e os matam com uma bicada violenta. Ao contrário das rapinas diurnas as corujas e afins não têm papo, ingerindo apenas a quantidade de alimento que necessitam no momento, escondendo os restos num local seguro.

Como são capazes de caçar na escuridão total?
Estes animais possuem eficientes adaptações, tanto a nível físico como sensorial, que tornam possível caçar na escuridão total. Os olhos grandes e a audição extremamente apurada permitem localizar as presas, mesmo com visibilidade muito reduzida.
A plumagem suave confere um voo altamente silencioso, permitindo que a ave se aproxime da pesa sem que seja detectada e apanhando-a de surpresa.
As corujas podem adaptar as suas formas de caçar dependendo o do tipo de animais que se alimentam. Umas espécies optam por observarem uma área a partir de um poiso, atacando no momento em que localizam uma presa ao seu alcance. Outras preferem planar procurando no solo uma refeição adequada.

Os olhos e a visão
É comum a todas as rapinas terem uma visão apurada, no entanto, os olhos das corujas foram feitos para serem usados tanto de dia como de noite. Possuem olhos grandes, virados para a frente; encontram-se situados de forma telescópica numas órbitas tubulares, pelo que são practicamente imóveis. Por esta razão, o campo visual é reduzido, sendo compensado com uma grande mobilidade do pescoço (podem girar a cabeça até 270 graus).
Os olhos podem pesar entre 1 e 5% do peso total da ave, dependendo da espécie. Devido ao facto de estarem virados para a frente, conferem uma visão binocular, de cerca de 70 graus dos 110 graus de campo de visão total. Isto significa que as corujas vêm os objectos a 3 dimensões e conseguem avaliar distâncias de uma maneira semelhante à dos humanos. O número de células fotossensíveis que apresentam na sua retina é infinitamente maior que o das aves diurnas e, por esta razão, se deve a capacidade visual realmente extraordinária durante as horas com menos luz.

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Fig. 2 [Imagem retirada de http://www.owlpages.com] – Campo de visão das corujas.

Os ouvidos e a audição
Quando a visibilidade é nula, várias espécies utilizam apenas a audição para caçar, sendo os ouvidos deste animal ainda mais surpreendentes que os olhos. Os ouvidos estão localizados nos lados da cabeça, atrás dos olhos e são cobertos por penas do disco facial.
A gama de sons audíveis por uma coruja não difere muito do Homem, mas é bastante mais sensível a certas frequências, que lhe permitem ouvir o menor dos movimentos.
Nas aves de actividade exclusivamente nocturna, os orifícios auditivos externos estão dispostos de forma assimétrica, um fica um pouco mais a cima que o outro. Assim, as ondas sonoras não chegam ao mesmo tempo a cada ouvido, há uma diferença de alguns milésimos de segundo. Esta diferença mínima de tempo é suficiente para que a ave consiga localizar com a precisão de um grau a sua presa. Os discos faciais também têm um papel importante, pois actuam como pavilhões acústicos móveis, que encaminham directamente para os ouvidos as ondas sonoras.

Neste vídeo pode ver como estes animais caçam apenas recorrendo à audição:[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=8bcMyBc_RmE&w=560&h=315]

Plumagem silenciosa
Embora não pareça importante, a plumagem é também uma adaptação à caça nocturna. O voo destas aves é extremamente silencioso, de forma a não alertar as presas e não interferir na localização acústica. Apresentam um acolchoado que cobre a parte superior das asas e o bordo externo das rémiges primárias têm as barbas com um dentado pectiniforme. Estas características amortecem a corrente do ar, evitando os ruídos próprios do voo ao corta-lo.

Fig. 3 [Imagem retirada de www.wikimedia.org] – Pormenor do bordo externo das rémiges primárias. É possível ver as barbas com um dentado pectiniforme.

Bibliografia
http://www.owlpages.com/articles.php?section=owl+physiology&title=Food
http://www.owlpages.com/articles.php?section=owl+physiology&title=hearing
http://www.owlpages.com/articles.php?section=owl+physiology&title=vision
Nicolai, J. (1999). Aves de Rapina. Evereste Editora

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