Anfíbios: Às Portas da Extinção

Os anfíbios são um grupo de animais muito antigo, que se terá desenvolvido no Devónico Médio, há cerca de 370 milhões de anos, a partir de peixes de barbatanas lobadas, semelhantes ao atual celacanto e aos peixes com pulmões. Os anfíbios são também entre os restantes vertebrados terrestres os que se encontram mais ameaçados e em rápido declínio. Até ao momento já foram descritas cerca de 8099 espécies em todo o planeta.

© Daniel Santos Photography
Tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton boscai)

A Península Ibérica é um dos locais da Europa com maior diversidade de anfíbios, distinguindo-se pela existência de várias espécies endémicas. As razões desta região conter uma herpetofauna tão particular residem no facto de estar relativamente bem isolada, apresentar uma grande heterogeneidade fisiográfica e ter servido de refúgio a muitas espécies animais e vegetais na última glaciação. Em Portugal existem 19 espécies de anfíbios das quais 7 são endémicas da Península Ibérica (37% das espécies são endemismos).
Este grupo de animais tem uma importância gigantesca nos ecossistemas em que se inserem, mantendo o seu equilíbrio. Para além de grande parte das espécies serem predadoras e, por isso, serem importantes no controlo de populações de invertebrados, servem também de alimento a muitos outros seres vivos.
A destruição e fragmentação de habitat, doenças infeciosas, poluição, alterações climáticas e introdução de espécies exóticas são alguns dos fatores que ameaçam os anfíbios por todo o planeta. Muitas populações diminuíram mesmo em áreas intactas, o que mostra que estes animais são extremamente sensíveis a qualquer tipo de atividade humana, mesmo que sejam a muitos quilómetros de distância.

Doenças
Certas doenças como a quitridiomicose e a ranavirose têm reduzido de forma alarmante as populações e até possivelmente extinguido várias espécies por todo o planeta.
A quitridiomicose é uma doença infeciosa provocada pelo fungo cítrico, Batrachochytrium dendrobatidis, que infecta a pele dos anfíbios. Nos indivíduos afetados, a pele torna-se impermeável a eletrólitos, como o sódio e o potássio, dificultado a sua passagem. Este desequilíbrio está normalmente associado a potenciais paragens cardíacas em humanos, verificando-se o mesmo desfecho nestes animais. O facto de a prevalência desta doença ser extremamente alta fora do seu local de origem e de raramente os indivíduos afetados sobreviverem, torna a situação ainda mais preocupante.

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Tritão-marmorado (Triturus marmoratus)

Em 1938 no continente africano foi descoberto na espécie Xenopus laevis o primeiro caso conhecido, sendo a doença endémica desta região. Com o comércio de anfíbios, a quitridiomicose tem-se espalhado por todos os continentes, exceto Antárctida, e é sabido ter um carácter patogénico para pelo menos 508 espécies. O surto mais grave da doença que se tem conhecimento ocorreu na América Neotropical, uma vez que esta terá sido responsável pela extinção de 110 espécies de Atelopus spp. (67%) e pelo rápido e acentuado declínio da diversidade em 8 famílias de rãs e salamandras em El Cope, Panama.

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Sapo-comum (Bufo spinosus)

Na Europa o fungo distribui-se por uma vasta e irregular área e já foi encontrado em várias espécies. Este problema também já se fez sentir em Portugal e o exemplo mais problemático ocorreu no Parque Natural da Serra da Estrela em Agosto de 2009, em que centenas de sapos-parteiro (Alytes obstetricans) foram encontrados mortos.
A ranavirose é uma doença provocada por vírus pertencentes ao género Ranavirus e normalmente afeta os anfíbios durante estado larvar. Esta doença de carácter epidémico está associada a mortalidades extremamente altas e é responsável por reduções populacionais por todo Mundo, incluindo Europa tal como já aconteceu no Reino Unido.

Alterações climáticas
Desde a formação do planeta Terra que o clima tem sofrido sucessivas alterações. Atualmente o problema prende-se com o facto de, no último século, o ritmo entre estas variações climáticas ter sofrido uma forte aceleração devido à atividade humana e a tendência é que tome proporções ainda mais acentuadas se não forem tomadas medidas. Esta súbita mudança climatérica impede que os organismos se adaptem às novas condições, resultando na extinção em massa das espécies.

O equilíbrio natural entre a disponibilidade de água e a temperatura são as condições abióticas mais importantes para o fitness e dinâmica das populações de anfíbios. O regime das águas tem um papel vital na determinação dos padrões da atividade reprodutora e na determinação da distribuição das populações. Uma alteração dos padrões da precipitação e períodos anormalmente longos de secas podem resultar numa diminuição dos locais de reprodução, com um consequente aumento dos níveis de competição e predação. Pode ainda levar a um aumento da vulnerabilidade a doenças.

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Rã-verde (Pelophylax prezi)

Os impactes das alterações climáticas nos sistemas ecológicos são observados a todos os níveis, desde a nível populacional, a mudanças na distribuição geográfica, culminando na extinção de espécies e rompimento da estrutura e funcionalidade dos ecossistemas.

Perda de habitat
A alteração direta dos sistemas ecológicos é uma das principais causas da perda de biodiversidade a nível global. Para além da destruição completa do habitat, há outras mudanças subtis que podem ter consequências significativas para os anfíbios.
A fragmentação do habitat aumenta consideravelmente a probabilidade de uma população local se extinguir, pois a distância entre populações também é aumentada, isolando-as.

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Floresta de pinheiros queimados.

Colheita/Comércio Ilegal
Atualmente estamos a lidar com uma percentagem sem precedentes de comércio ilegal de animais silvestres, ameaçando reverter décadas de trabalhos de conservação. Esta atividade é um grande negócio, sendo comparável ao tráfico de armas e de droga, movimentando milhões de euros.
Os anfíbios são comercializados para a alimentação, como animais de estimação e para medicinas tradicionais. Este negócio ilegal é responsável pelo declínio de várias espécies de anfíbios e muitas têm sido recolhidas em grande número durante séculos.
Apesar do comércio de animais selvagens ser proibido e regulado pela Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora (CITES), o tráfico de anfíbios representa uma ameaça para, pelo menos, 281 espécies, das quais 153 (54%) estão classificadas com um dos seguintes estatutos, “Vulnerável”, “Em Perigo”, ou “Criticamente em Perigo”.

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Salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica)

Contaminação Ambiental e Espécies Exóticas
Certos contaminantes aumentam o período larvar e tornam os juvenis mais suscetíveis à predação e à secagem do charco em que habitam. A exposição a contaminantes pode ainda levar a um mau desenvolvimento (por exemplo, más formações corporais e alterações metabólicas) e impossibilita o indivíduo de se reproduzir.

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Dunas do Estuário do Douro

Outro grande problema é a introdução de espécies exóticas. Algumas das espécies introduzidas pelo Homem conseguem rapidamente adaptar-se aos novos ambientes e produzir descendência. Esta fácil adaptação resulta frequentemente na eliminação completa das espécies nativas através da competição por exclusão. As espécies invasoras não só diminuem as populações dentro de uma comunidade, como também podem levá-las à extinção, sendo este um fator modificador de todo um ecossistema em equilíbrio.
Alguns peixes carnívoros introduzidos nos rios portugueses revelaram-se autenticas pragas para as espécies nativas de anfíbios, pois predam os ovos, as larvas e até os adultos. O mesmo acontece com o lagostim-vermelho-da-Louisiana (Procambarus clarckii), que foi introduzido em meados do século XX em Portugal e já se distribui por todo o território.

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Lagostim-Vermelho-Do-Louisiana (Procambarus clarkii)

Os anfíbios são animais muito suscetíveis a quaisquer alterações no seu habitat. Por isso, num planeta que está em constante e profunda mudança devido às atividades humanas, é crucial que estes sejam protegidos e todos nós podemos e devemos contribuir para a sua conservação.

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Referências
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