Salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica)

A salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica) é uma espécie icónica da herpetofauna portuguesa, que só pode ser encontrada no noroeste da Península Ibérica. Tem uma morfologia muito peculiar, sendo facilmente distinguida das restantes espécies de salamandras e tritões que existem em Portugal. O seu pequeno tamanho e preferência por habitats húmidos com vegetação densa, torna a sua observação uma tarefa difícil. Esta é uma espécie que se encontra ameaçada, principalmente por ser muito sensível às alterações dos habitats de que depende e, por isso, é crucial agir na proteção destes sistemas.

©️ Daniel Santos
Salamandra-lusitânica adulta

Taxonomia
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Amphibia
Ordem: Caudata
Família: Salamandridae  
Género: Chioglossa
Espécie: Chioglossa lusitanica

Existem duas subespécies de salamandra-lusitânica com uma diferenciação genética considerável, nomeadamente a C. lusitanica lusitanica, que existe exclusivamente em Portugal, a sul do Rio Mondego, e a subespécie C. l. longipes, que corresponde às restantes populações a norte do Mondego. Estas distinguem-se apenas por diferenças no comprimento relativo dos membros e dígitos, que são maiores na subespécie C. l. longipes.

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Salamandra-lusitânica adulta

Estatuto de Conservação, Abundância e Fatores de Ameaça
Em Portugal a salamandra-lusitânica está classificada com o estatuto de conservação “Vulnerável”, pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.
A salamandra-lusitânica apresenta uma elevada fragmentação populacional em território nacional, parecendo também existir um declínio continuado da sua área de distribuição e do número de indivíduos maduros, principalmente devido à degradação da qualidade de habitat. A perda de habitat deve-se essencialmente à destruição da vegetação ripícola autóctone e à alteração da qualidade e disponibilidade de água. A conversão da floresta nativa, nomeadamente de folhosas, para monoculturas de produção está a levar a que as populações fiquem restritas às margens dos cursos de água. Este efeito é especialmente notório em eucaliptais, uma vez que, a salamandra-lusitânica evita a manta-morta de folhas de eucalipto, devido ao seu efeito tóxico, tanto para as próprias salamandras como para as suas presas, diminuindo a disponibilidade de alimento. É importante referir ainda que a salamandra-lusitânica apresenta uma capacidade de dispersão limitada, o que a torna particularmente sensível aos fatores já referidos.
Internacionalmente está classificada como “Quase Ameaçada”.

Portugal


Global

Distribuição
A salamandra-lusitânica é um anfíbio endémico da Península Ibérica, ocorrendo essencialmente no noroeste da mesma e Portugal contém cerca de 50% da distribuição global.
Em Portugal ocorre no noroeste e centro/oeste do país, tendo como limite a sul o rio Tejo, a este a serra da Estrela e a centro/oeste as serras do Buçaco, Lousã e Alvelos.
Em 1943, a espécie foi introduzida na serra de Sintra e durante algum tempo o estado desta população era pouco conhecido, mas registos mais recentesindicam que ainda ocorre nesta região.

©️ Portugal Selvagem
Mapa de distribuição mundial e nacional da salamandra-lusitânica.

Ecologia e Comportamento
Habitat: É uma espécie com requisitos ecológicos muito particulares, ocorrendo exclusivamente em microhabitats com atmosfera saturada de humidade. Está normalmente associada a zonas montanhosas, com verões e invernos amenos e com elevada precipitação, sendo a sua distribuição condicionada principalmente pela precipitação. Aparece tradicionalmente em ribeiros de água corrente, límpida e bem oxigenada, com muita vegetação nas margens. Os biótopos circundantes condicionam significativamente os seus movimentos e abundância, mostrando uma preferência por bosques caducifólios densos, com vegetação rasteira abundante, ou por lameiros, dado que estes habitats apresentam normalmente humidades elevadas junto ao solo e permitem às salamandras afastarem-se das linhas de água. É frequente ainda em minas antigas e com grande disponibilidade de água.

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Exemplo de habitat onde ocorre a espécie.

Comportamento: É uma espécie principalmente noturna, embora em dias nublados e húmidos, também possa estar ativa durante o dia e durante o crepúsculo. A salamandra-lusitânica respira exclusivamente através da pele, pois não possui pulmões funcionais, o que explica a necessidade de manter a pele constantemente húmida, de forma a garantir eficiência das trocas gasosas. Apesar de estar dependente de habitats saturados em humidade, os adultos têm hábitos terrestres, utilizando o meio aquático apenas para fugirem dos predadores e nalguns casos para acasalar e depositar os ovos. Durante o dia refugiam-se debaixo de rochas, troncos, em pequenas fendas naturais, ou ainda na folhagem do solo.
Durante os períodos mais quentes e secos do ano, assim como durante os períodos mais frios, pode passar por períodos de inatividade. Ao contrário das restantes salamandras e tritões que ocorrem em Portugal, a salamandra-lusitânica apresenta uma locomoção ágil e rápida.

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Salamandra-lusitânica adulta

Predadores e Estratégias de Defesa: Apresenta vários inimigos naturais, como cobras-de-água (Natrix spp.), a lontra (Lutra lutra) e outros mamíferos, assim como grandes sapos. As larvas são predadas por cobras-de-água, larvas de libélula e escaravelhos aquáticos.
Quando ameaçada, a primeira opção é sempre a fuga, no entanto, se esta estratégia não funcionar, a salamandra-lusitânica exibe um truque que mais nenhuma espécie de salamandra ou tritão em Portugal consegue replicar: consegue libertar a cauda, um comportamento semelhante aos dos lagartos, mas invulgar nos anfíbios. Na Europa, para além da salamandra-lusitânica, este comportamento apenas está descrito na espécie Mertensiella caucasica. Esta estratégia pode ser eficaz, mas uma vez que a cauda é usada na locomoção e reprodução e sabendo que a cauda regenera a um ritmo muito lento (entre 2 a 3 mm por mês), nunca chegando a atingir o tamanho original, acaba por ter implicações importantes para a sobrevivência das salamandras.
A longevidade máxima para a espécie é de cerca de 10 anos, contando com a fase larvar.

Dieta: A dieta dos adultos baseia-se em pequenos invertebrados, nomeadamente insetos, aracnídeos e moluscos, que capturam projetando a língua pedunculada. As larvas alimentam-se de pequenos invertebrados aquáticos.

Morfologia Externa e Identificação
Biometrias: É uma salamandra de tamanho médio e o seu comprimento total normalmente varia entre os 12 e os 16 cm. Possui uma cauda muito comprida, que corresponde a cerca de 2/3 do seu comprimento total. As larvas medem entre 28 e 50 mm.

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Salamandra-lusitânica adulta

Adulto: A salamandra-lusitânica é uma espécie inconfundível da nossa herpetofauna, dada a sua morfologia peculiar. Apresenta um corpo delgado, cilíndrico e comprido, com membros curtos, com quatro dedos nos anteriores e cinco nos posteriores. A cabeça é pequena, achatada e com olhos grandes e conspícuos.
Ao longo do dorso, que é escuro, tem duas listas de cor dourada ou alaranjada, que se unem na zona da cloaca e estende-se ao longo da cauda. O ventre é cinzento-escuro, com pequenos pontos brancos.
Não apresentam um dimorfismo sexual muito evidente, mas as fêmeas, de uma forma geral, são mais robustas. Já os machos apresentam normalmente a cloaca mais desenvolvida, especialmente durante a época de reprodução e, durante esta época, desenvolvem nas patas anteriores calosidades nupciais.

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Salamandras-lusitânicas adultas

Larvas: Tal como os adultos, apresentam um corpo alongado e cabeça achatada. As brânquias são pouco desenvolvidas, assim como a crista dorsal, que está restrita à cauda. Depois de eclodirem, têm pouca coloração, mas à medida que vão crescendo, vão ficando mais escuras, passando pelo castanho e finalmente chegando a ser quase negras.

Espécies similares: É uma espécie inconfundível da nossa fauna, não existindo qualquer outra espécie similar.

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Salamandra-lusitânica adulta

Reprodução
A maturidade sexual da salamandra-lusitânica é atingida entre os 4 e os 5 anos após a metamorfose. A época de reprodução pode variar muito consoante a região do país, mas em Portugal esta parece ocorrer sobretudo entre Maio e Novembro. Durante esta época exibe um comportamento de cortejamento complexo, em que o macho coloca-se debaixo da fêmea e agarra os seus membros anteriores, tarefa que é facilitada pelas calosidades nupciais, e depois deposita o espermatóforo que é recolhido pela cloaca da fêmea. O acasalamento ocorre em terra ou em águas pouco profundas.
A fêmea deposita os ovos em locais húmidos e protegidos, normalmente em paredes cobertas de musgo nas margens de ribeiros, debaixo de pedras e raízes ligeiramente submersas, ou nas paredes de minas com disponibilidade de água. Cada postura é composta em média por 18 ovos, podendo ocasionalmente ultrapassar os 30 ovos. Nalgumas minas, onde as condições são ideais para a reprodução da espécie, é possível encontrar milhares de ovos nas paredes e no chão.
O desenvolvimento embrionário é bastante longo, tendo uma duração entre seis e nove semanas. Após a eclosão, as larvas procuram proteção debaixo de pedras e folhas submersas. Estas normalmente apenas completam a metamorfose depois do inverno, no ano seguinte, mas podem demorar até três anos para atingir a fase de adulto.

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Embrião de salamandra-lusitânica

Bibliografia
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